A urgência do setor educacional em (re)pensar os espaços de transparência
Por Gesley Fernandes.
A greve da USP e das estaduais paulistas continua, com mais de dois meses de greve dos três setores (estudantes, funcionários e professores) de várias unidades das universidades espalhadas por todo estado continuam esperando negociações. Com mais ou menos adesão de algumas unidades ou setores, fica claro que a transparência do financiamento dessa modalidade de ensino está em jogo.
Através de um processo excludente desde seu início, as universidades públicas são espelhos de uma sociedade que relega os bons serviços da gestão pública a um público privilegiado. Começando com o vestibular, a maioria das cadeiras de uma USP, por exemplo, são destinadas a pessoas que tiveram acesso a um ensino conteudista –que alguns dizem ser meritocrático– e que lhes possibilita entrar nesse universo. Com essa porta de entrada restrita, a universidade se fecha dentro dos seus muros e os poucos que entraram se encastelam.
Logo depois dessa porta, dentro da própria universidade uma nova divisão tem efeito. Cursos de carreiras mais prestigiadas acabam levando uma parte maior das verbas e tendo maior atenção da direção. Continuando com nosso exemplo da USP, unidades como FEA (Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade) e POLI (Escola Politécnica) acabam mais beneficiadas. Por mais que estatisticamente essas recebam estudantes vindos das camadas já privilegiadas da população, as verbas para essas unidades são maiores, e os espaços e materiais pedagógicos também recebem maiores cuidados.
Não é por acaso que unidades como essas quase sempre não entram em greves e não apoiam reivindicações de outras unidades. Já falei em um artigo anterior que o problema da USP, muito antes de ser financeiro, é de escolhas políticas. Como toda unidade escolar é internamente reflexo da comunidade do seu entorno, a USP é um grande espelho refletindo nossas diferenças sociais, assim como nossa indiferença a elas.
Ao dividir unidades mais privilegiadas que outras, ou professores, que em nome de verbas apoiam a desestruturação sistêmica que tem sido feita, temos um reflexo de uma sociedade que deveria caminhar rumo a uma aprendizagem com oportunidades para todos, mas que perde-se no seu andar. Infelizmente, teimamos em manter estruturas de governança dentro de organismos públicos de forma a repetir os defeitos de nossa sociedade, sendo que estas poderiam ser as organizações que deveriam primar por equalizar oportunidades e minimizar os defeitos de acesso a conteúdos de qualidade.
A greve desse ano nas universidades estaduais paulistas é apenas um exemplo de como novos mecanismos de controle social devem ser adotados dentro da administração publica. Não só em questão de transparência nos gastos de recursos públicos (uma das principais pautas do movimento grevista), como é também preciso ter participação de todos os extratos que usufruem daquele órgão público em suas instancias de governanças.
Temos um cenário onde o PNE (Plano Nacional de Educação) aprovado tem a perspectiva de infundir o setor da educação com recursos financeiros nos próximos anos. Pensar esses dois aspectos (transparência e governança), mais que urgente, é absolutamente necessário para que esses reflitam em uma melhora no acesso a espaços de aprendizagem privilegiados, como a USP, para todos.
Edição: Samy Dana e Octavio Augusto de Barros.
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