Greve na USP: para um problema político, a solução é mais política
Por Gesley Fernandes.
As três universidades públicas paulistas estão em greve. UNESP, UNICAMP e USP estão não somente com seus estudantes em greve, mas com os professores e funcionários também. O novo reitor da USP alega que não irá dar reajuste salarial algum para os profissionais da USP, e ainda há corte de bolsas e outros gastos. Só de não reajustar os salários, na verdade significa uma perda salarial, visto que há a inflação. Outro problema é que em época de pleno emprego e de ganhos reais nos salários, como os profissionais dessa organização devem aceitar um arroxo salarial? Logo vieram a tona uma série de textos comentando a situação que o reitor apresenta como crise financeira e, sem discutir abertamente, vacina-se uma miríade de soluções. Uma das mais polêmicas é a cobrança de mensalidade na melhor universidade do Brasil.
Cobrar mensalidade em uma universidade como a USP representa uma ideia das piores para quem imagina um ensino de qualidade e que seja para todos. Apesar da USP e as outras universidades públicas terem em seus bancos uma maioria que teve acesso ao ensino privado nas etapas do ensino básico, não podemos pensar essas universidades voltadas somente a esse público. O Brasil conseguiu assegurar em sua constituição que em um país historicamente injusto e desigual, algumas políticas públicas essenciais sejam de igual acesso a todos, sem diferenciação.
É uma luta enorme para que isso se efetive. Cobrar mensalidades em um ambiente que já excludente é tirar fora quem já não pode pagar por ensino privado e conteudista em fases anteriores. Uma forma que apenas aumenta mais a exclusão de uma massa do ensino de ponta do país. E não cabe nesse artigo, mas aumentar a diferença econômica entre as pessoas só torna a sociedade mais difícil de viver, mais violenta e com relações entre os cidadãos cada vez mais esgarçadas ao limite. E nesse absurdo colocado, oferecer bolsas não é solução. Na verdade, seria um problema dentro de outro problema criado por um falsa solução financeira para um falso problema financeiro.
Em toda a discussão que a greve das estaduais paulistas trouxe, uma que não se vê na mídia e nem nas repostagens em redes sociais é que essas universidades estão nessa situação por escolhas políticas de seus antigos reitores e seus colegiados. Muitas das decisões foram tomadas ao longo dos anos para se manter a estrutura de poder interna, dando benesses para quem auxilia a manutenção do status quo, e isso levou uma situação crítica.
Como foram decisões políticas que levaram a situação atual, a única solução possível para um problema político é sempre mais política. Não adiantaria cobrar mensalidade se as estruturas de decisões do que fazer com o orçamento da USP continuarem as mesmas e fechadas em um grupo específico, que não as discute. Mais política significa reformar as estruturas de poder de forma que mais grupos interessados na forma como se gere a universidade participem e tenham voz e poder nessa participação.
Uma universidade pública gratuita, laica e de qualidade deve ser sempre um bem a ser zelado pela sociedade. Apesar de nem todos estarem nos bancos de universidade como a USP (e outras universidade públicas), ela serve a todos. Ao formar profissionais de ponta, uma organização como essa contribui de forma a não podermos contabilizar com uma mensalidade. Ter em mente que todos merecem sentar-se em bancos de universidade de ponta como a USP (se assim quiserem), é lutar não só para que ideias estapafúrdias como essa da cobrança da mensalidade não tenha mais lugar, mas que tenhamos muito mais bancos de universidades públicas para oferecer a todos da sociedade.
Edição: Samy Dana e Octavio Augusto de Barros.
ID: {{comments.info.id}}
URL: {{comments.info.url}}
Ocorreu um erro ao carregar os comentários.
Por favor, tente novamente mais tarde.
{{comments.total}} Comentário
{{comments.total}} Comentários
Seja o primeiro a comentar
Essa discussão está encerrada
Não é possivel enviar novos comentários.
Essa área é exclusiva para você, assinante, ler e comentar.
Só assinantes do UOL podem comentar
Ainda não é assinante? Assine já.
Se você já é assinante do UOL, faça seu login.
O autor da mensagem, e não o UOL, é o responsável pelo comentário. Reserve um tempo para ler as Regras de Uso para comentários.