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GV CULT - Criatividade e Cultura

Greve na USP: para um problema político, a solução é mais política

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14/06/2014 09h00

Por Gesley Fernandes.

As três universidades públicas paulistas estão em greve. UNESP, UNICAMP e USP estão não somente com seus estudantes em greve, mas com os professores e funcionários também. O novo reitor da USP alega que não irá dar reajuste salarial algum para os profissionais da USP, e ainda há corte de bolsas e outros gastos. Só de não reajustar os salários, na verdade significa uma perda salarial, visto que há a inflação. Outro problema é que em época de pleno emprego e de ganhos reais nos salários, como os profissionais dessa organização devem aceitar um arroxo salarial? Logo vieram a tona uma série de textos comentando a situação que o reitor apresenta como crise financeira e, sem discutir abertamente, vacina-se uma miríade de soluções. Uma das mais polêmicas é a cobrança de mensalidade na melhor universidade do Brasil.

Cobrar mensalidade em uma universidade como a USP representa uma ideia das piores para quem imagina um ensino de qualidade e que seja para todos. Apesar da USP e as outras universidades públicas terem em seus bancos uma maioria que teve acesso ao ensino privado nas etapas do ensino básico, não podemos pensar essas universidades voltadas somente a esse público. O Brasil conseguiu assegurar em sua constituição que em um país historicamente injusto e desigual, algumas políticas públicas essenciais sejam de igual acesso a todos, sem diferenciação.

É uma luta enorme para que isso se efetive. Cobrar mensalidades em um ambiente que já excludente é tirar fora quem já não pode pagar por ensino privado e conteudista em fases anteriores. Uma forma que apenas aumenta mais a exclusão de uma massa do ensino de ponta do país. E não cabe nesse artigo, mas aumentar a diferença econômica entre as pessoas só torna a sociedade mais difícil de viver, mais violenta e com relações entre os cidadãos cada vez mais esgarçadas ao limite. E nesse absurdo colocado, oferecer bolsas não é solução. Na verdade, seria um problema dentro de outro problema criado por um falsa solução financeira para um falso problema financeiro.

Em toda a discussão que a greve das estaduais paulistas trouxe, uma que não se vê na mídia e nem nas repostagens em redes sociais é que essas universidades estão nessa situação por escolhas políticas de seus antigos reitores e seus colegiados. Muitas das decisões foram tomadas ao longo dos anos para se manter a estrutura de poder interna, dando benesses para quem auxilia a manutenção do status quo, e isso levou uma situação crítica.

Como foram decisões políticas que levaram a situação atual, a única solução possível para um problema político é sempre mais política. Não adiantaria cobrar mensalidade se as estruturas de decisões do que fazer com o orçamento da USP continuarem as mesmas e fechadas em um grupo específico, que não as discute. Mais política significa reformar as estruturas de poder de forma que mais grupos interessados na forma como se gere a universidade participem e tenham voz e poder nessa participação.

Uma universidade pública gratuita, laica e de qualidade deve ser sempre um bem a ser zelado pela sociedade. Apesar de nem todos estarem nos bancos de universidade como a USP (e outras universidade públicas), ela serve a todos. Ao formar profissionais de ponta, uma organização como essa contribui de forma a não podermos contabilizar com uma mensalidade. Ter em mente que todos merecem sentar-se em bancos de universidade de ponta como a USP (se assim quiserem), é lutar não só para que ideias estapafúrdias como essa da cobrança da mensalidade não tenha mais lugar, mas que tenhamos muito mais bancos de universidades públicas para oferecer a todos da sociedade.

Edição: Samy Dana e Octavio Augusto de Barros.

Sobre o editor

Guilherme Mazzeo é coordenador institucional do GvCult, graduando em Administração Pública pela FGV-EAESP. Um paulista criado em Salvador, um ser humano que acredita na cultura e na arte como a direção e o sentido para tudo e para todos. A arte é a mais bela expressão de um ser humano, é a natureza viva das coisas, a melhor tradução de tudo. Só a cultura soluciona de maneira sabia e inteligente tudo, a cultura é a chave para um mundo melhor, mais justo, livre e próspero! Devemos enaltecer e viver nossas culturas de forma que sejamos protagonistas, numa sociedade invasiva e carente de: vida, justiça, alegria e força.

Sobre o Blog

O GV Cult – Núcleo de Criatividade e Cultura da FGV desenvolve atividades de criação, fruição, gerenciamento, produção e execução de projetos culturais e de exercícios em criatividade.