Novos capítulos de história colonial (IV)
Por Bernardo Buarque de Hollanda
O último capítulo dessa série dedica-se a apresentar o artigo do historiador Ciro Flamarion Cardoso (1942-2013), professor de história antiga na Universidade Federal Fluminense (UFF), intitulado "O trabalho na Colônia". Nele, seu objetivo é fazer desmoronar a visão estanque e reducionista que a historiografia brasileira sustenta acerca do período colonial do país, entre os séculos XVI e XIX.
São principalmente duas as categorias por ele criticadas ao longo do trabalho: a primeira refere-se à dicotomia interno/externo, sobre a qual se assentava a economia da Colônia, isto é, o caráter reflexo colonial, no tocante aos interesses mercantis metropolitanos; a segunda diz respeito à conformação social no interior da Colônia, cuja base restringia-se ao binômio senhor de terras/escravos.
Sem deixar de ressalvar a essência verídica de tal argumentação, o autor defende que ela é insuficiente e afigura-se incapaz de fornecer uma real dimensão das variáveis da vida na Colônia. Para se compreender como estava estruturada a economia do país no período, é necessário ressaltar aspectos como o estágio das forças produtivas, a inserção da economia no sistema mercantil europeu e o grau de desenvolvimento das relações de produção.
Ademais, assevera o historiador que o elemento orientador da dinâmica do trabalho não se encontra na identificação de um trabalho escravo, mas sim em sua variável – o trabalho compulsório.
Após desmistificar a ideia errônea segundo a qual as terras dominadas por Portugal limitavam-se à monocultura e à plantation, cujos proprietários dominavam centenas de escravos, Ciro Flamarion expõe o eixo central que baliza seu pensamento – a diversidade espacial e temporal do trabalho no Brasil colonial.
Assim como a escravidão indígena do século XVI diferiu da escravidão africana do século XVII, e da mesma maneira como a colonização da Amazônia apresentou um processo distinto ao que se verificou no Rio Grande do Sul, há de se considerar, segundo Cardoso, uma série de outros matizes no intuito de apreender a "relativa complexidade", dessa fase histórica. Em linhas gerais, e esperando não ser de igual maneira simplista, são estas as noções históricas acerca do trabalho na Colônia. É preciso perceber, antes de tudo, que o Autor se posiciona de forma diametralmente oposta ao que denomina "…uma historiografia que refletia em última análise os interesses metropolitanos e os dos grupos dominantes coloniais e posteriormente imperiais".
Edição Final: Guilherme Mazzeo
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