Novos capítulos de história colonial (III)
Por Bernardo Buarque de Hollanda
Em O arcaísmo como projeto – mercado atlântico, sociedade agrária e elite mercantil no Rio de Janeiro (1790-1840) –, lançado em 1996, João Fragoso e Manolo Florentino trazem um balanço apropriado da historiografia econômica do Brasil colonial. A própria escolha de Caio Prado Júnior como eixo central com base no qual a discussão se desenvolve constitui de antemão um indicativo do enfoque desejado pelos autores. A partir da década de 1930, quando há um redimensionamento da questão nacional e do que significa o Brasil em seus aspectos culturais, sociais, políticos e econômicos, observa-se que a história do país começa a ser estudado não mais sob o viés evolutivo – teoria dos ciclos – mas sim sob uma ótica estrutural.
Tanto a escola do "sentido da colonização" quanto a que conceituava um "modo de produção escravista" analisam a condição colonial brasileira de acordo com uma visão de dependência perante a metrópole e de extensão por parte da mesma do sistema capitalista mercantil. O mercado internacional, as flutuações comerciais, o sobretrabalho produzido na Colônia, a ausência de acumulações endógenas, o sistema monocultor da plantation, o comércio transatlântico de escravos – todos estes fenômenos atestam uma subordinação econômica brasileira em relação à Europa e a Portugal em particular.
Os autores do livro, Fragoso e Florentino, vão realçar a especificidade lusitana e a história que subjaz a seu processo de expansão marítima, a fim de compreender melhor a condição e as raízes da economia colonial brasileira – relativamente equivalente ao que Sérgio Buarque propôs em Raízes do Brasil no plano psíquico-social.
Grosso modo, as ideias a respeito de Portugal são as que de "o atraso português, em pleno século XVIII, não é um estranho anacronismo, fruto da incapacidade de acompanhar o destino manifesto capitalista europeu; ao contrário, o arcaísmo constitui um projeto social, cuja viabilização depende no fundamental da apropriação das rendas coloniais".
Para o Brasil, em suma, o ideário é que "para além das frações dominantes coloniais, a consecução do projeto colonizador, mais do que criar um sistema monocultor e exportador, visava reproduzir em continuidade uma hierarquia altamente qualificada".
Edição Final: Guilherme Mazzeo
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