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GV CULT - Criatividade e Cultura

O significado de Sucesso (ou “O sentido da Vida”)

Ana Vidal

15/09/2015 07h00

por   Marcio Samia

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Em sua aventura

Percorrendo quase 800km pelo norte da Espanha, com direção à famosa catedral de Santiago de Compostela, conheci um senhor com seus quase 60 anos também caminhando. Como é costume entre peregrinos, começamos ali mesmo a conversar sobre os motivos que nos fizeram atravessar oceanos para simplesmente andar.

O senhor me disse que seu filho, de 26 anos, tinha uma doença complicada e, após o diagnóstico realizado, sobreviveu apenas mais dois meses. Morreu deixando os pais, uma namorada e um monte de sonhos e projetos que nunca serão realizados por ele.

Foi muito comovente ouvir aquele senhor falar do garoto, um jovem alegre e carinhoso que parecia estar à sua espera em sua terra natal. Ouvi todo o relato sem dizer uma só palavra.

Após quase uma hora e algumas lágrimas que conseguiram escorrer, apesar do meu esforço em tentar segurá-las, perguntei para o senhor o porquê da escolha do Caminho de Santiago para refletir e homenagear o filho. A resposta me deixou ainda mais emocionado.

– Esse era um sonho dele. E sonhos devem ser realizados! Estou realizando o sonho dele.

Num ritmo muito mais lento que o meu, o senhor me disse que pararia para dar uma descansada. Eu prossegui.

Meus pensamentos estavam muito agitados. Lembrei imediatamente de minha irmã, enfermeira de um conceituado hospital no Brasil, que trabalhou por quatro anos na ala de pacientes terminais de câncer, com cuidados paliativos.

Em várias oportunidades ouvi testemunhos dela me dizendo que no leito de morte os pacientes a agarravam pelo jaleco e imploravam para que pudessem sobreviver apenas mais uma semana, a fim de conseguir realizar mais um pequeno sonho, como ir à praia, participar de um almoço com a família ou receber a visita do filho, que estaria chegando de algum lugar distante. Como se o trabalho dela não fosse apenas dar o conforto necessário para que o paciente pudesse descansar em paz, mas exigiam (alguns com certa grosseria), que ela os "segurasse" mais um pouco do lado de cá.

Em seus relatos, nenhuma vez ela me disse sobre alguém que precisava entregar um relatório ou que teria uma reunião urgente na terça feira e não podia faltar. Somente pessoas que estavam brigando por migalhas de vida, coisas simples, do nosso dia a dia e que (quase) sempre nos passam desapercebidas.

São esses pequenos momentos que adiamos muitas vezes pelo simples motivo de estarmos indo atrás do nosso "sucesso". Como se "sucesso" tivesse a ver com o nome do cargo que carregamos no crachá da empresa, ao lado do nosso número funcional.

Continuei o dia pensando nisso e sobre o verdadeiro sentido da nossa vida.

Foi aí que percebi que estava já a mais de vinte dias sobrevivendo com apenas 03 camisetas, 03 cuecas, 02 calças, 03 pares de meias, 01 blusa e 01 tênis. Fora o que estava no meu corpo, o restante estava amarrotado dentro de uma mochila grande que eu carregava nas costas, juntamente com alguns cosméticos e pequenas lembranças dos simpáticos moradores dos vilarejos que eu passava.

Fiz questão de pensar no tema "felicidade", pois ali eu tinha pouquíssimos bens materiais. E notei que eu estava muito feliz, apesar de "possuir" muito pouco.

E foi assim que finalmente entendi que sucesso pouco tem a ver com status ou posição social. Que felicidade tem muito mais a ver com sonhos realizados e com a capacidade de lutar pelo que se deseja, independente das opiniões que ouvimos diariamente.

De que adianta ter muitas coisas e não ter "tempo" para desfrutar dessas coisas?

As vezes é preciso abrir mão de pequenas regalias para termos a oportunidade de aproveitar um pouquinho mais do que a vida pode oferecer para nós.

Para realizar essa viagem precisei sair um pouco (ou muito) da minha zona de conforto. Precisei planejar bastante, estudar o Caminho, buscar informações. Foi necessário ficar em estado de alerta diversas vezes. Me machuquei em alguns momentos, cheguei exausto em todas as etapas, muitas vezes encharcado por causa da chuva, muitas vezes com frio por causa da neve, ou em outras beirando a insolação, devido o tempo quente. Tudo isso serviu para que eu entendesse um pouquinho mais sobre o que significa "viver". E valeu muito a pena!

Conhecer o senhor que estava "realizando o sonho do filho" foi mais uma das inúmeras experiências maravilhosas que tive o prazer de vivenciar. Mas mais do que isso, fazer essa viagem estava tão presente nos meus sonhos quanto é presente o sangue que corre nas minhas veias.

Foi preciso apenas planejar, focar e criar coragem. Então, embarquei.

Depois de partir, demorei 26 dias para chegar no destino da viagem: a belíssima Catedral na cidade de Santiago de Compostela. Um momento emocionante não pela chegada em si, mas sim pelas lembranças do próprio Caminho. Tal como deve ser nossa vida. No momento da nossa despedida, devemos nos orgulhar de como trilhamos nossa jornada aqui na Terra. Olhar pra trás e reconhecer que nossos passos foram dados seguindo o Caminho que acreditamos ser o mais correto e o que nos fez mais feliz.

Para mim isso é Sucesso.

E você? O que tem feito para realizar seus sonhos? Tem obtido o "sucesso" que sempre desejou, ou está deixando o tempo correr, com a velha desculpa do "agora não dá, depois eu vejo isso"?

Pense nisso e boa evolução!

Edição     Ana Vidal

 Sem título

Sobre o editor

Guilherme Mazzeo é coordenador institucional do GvCult, graduando em Administração Pública pela FGV-EAESP. Um paulista criado em Salvador, um ser humano que acredita na cultura e na arte como a direção e o sentido para tudo e para todos. A arte é a mais bela expressão de um ser humano, é a natureza viva das coisas, a melhor tradução de tudo. Só a cultura soluciona de maneira sabia e inteligente tudo, a cultura é a chave para um mundo melhor, mais justo, livre e próspero! Devemos enaltecer e viver nossas culturas de forma que sejamos protagonistas, numa sociedade invasiva e carente de: vida, justiça, alegria e força.

Sobre o Blog

O GV Cult – Núcleo de Criatividade e Cultura da FGV desenvolve atividades de criação, fruição, gerenciamento, produção e execução de projetos culturais e de exercícios em criatividade.