Por    André Dib

Foi um daqueles sonhos incríveis. Que você só acredita que era um sonho quando acorda. Tudo tão real, tudo tão tangível. Como se realmente tivesse acontecido. Era o que queria, na verdade. Não saíra na noite anterior por falta de opções. Mas estava carente e seria muito bom ter passado a noite com alguém.

No sonho tivera muito boa companhia. Companhia essa que se estendeu loucamente por toda a noite. Talvez por algumas noites seguidas. Fora um sexo incrível. Selvagem. Lembrava de muito tesão, muito suor e muitos gemidos. Agarrões no cabelo, unhadas e mordidas.

Não daquelas que doem. Aquelas mordidas sensuais. Que abocanham a coisa certa, na hora certa. Na verdade, não sentira dor nenhuma no sonho, muito menos fizera esforço. Como se tudo fosse muito fácil e natural. Posições de yoga e ballet foram comuns. Um alongamento que parecia nato, uma expertise que parecia profissional.

Fazia tempo que não tinha uma noite assim. Fazia tempo que não sentia o que sentia ao acordar. Por um momento pensou que podia ser alguém conhecido, mas não era. Era uma companhia que jamais havia visto e jamais veria. Era uma pena, provavelmente ficaria com isso na cabeça um bom tempo. Tempo suficiente para que sua memória apagasse as imagens confusas que tinha na mente. Acontecia isso com os sonhos: cedo ou tarde eles se apagam.

Levantou e decidiu seguir em frente. Quem sabe nesse novo dia não teria um remédio real para sua carência. Uma companhia de verdade. Alguém que fizesse o sonho se apagar da sua memória e trouxesse imagens reais, para se lembrar para sempre.

Como de costume levantou e foi ao banheiro. Aproveitou pra tomar um banho, daqueles que trazem disposição para o dia todo. Quando terminou se olhou no espelho e lá estava ele: um chupão enorme no pescoço, daqueles da época da adolescência.

Edição    Filipe Dal'Bó e Samy Dana