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GV CULT - Criatividade e Cultura

Sobre o Conceito de Rosto no Filho de Deus

GVcult

06/11/2014 16h20

Por Vítor Steinberg.

Vulcanizou-se a montanha dos alpinistas sociais. A lava corroeu as cordas compradas pelo e-bay, amazon e, eventualmente, na própria loja da Decathlon. Aproveitou-se e deu-se uma paradinha na Tok Stok. Nem tão boas as toalhas de banho, pior ainda os incensos. Mas o abajur cabe no porta-malas do Clio. Ou Peugeot. Ou Kia Soul. Sacoleiros e alpinistas, rompido houve o caminho dum gesto enluvado proveniente da mão armada de um guarda da CET. Não, era uma blitz mesmo. O Bafômetro. E tantas outras tais nomenclaturas, tamanhos outros quais apelidos dados por aí. Minhocão, Estilingão, Cebolão. Bestas graves e gigantes apelidadas. Monstrinhos cultivados e monitorados. Daqui a pouco, se chover, vai entupir tudo no esgotão.

Consequentemente uma onda tsunâmica far-se-á correr, além de pneus e sacolas, um braço, nariz, coisa que o valha. Entupidão no esgotão. A boca de Hades gargarejando o listerine do povão. Se entupir as veias nasais, o trânsito já estava congestionado. E, se um morcego-vampiro morder a artéria pulsante do pescoço da personal trainer, ela já era raivosa. Não há necessidade de um vampiro nos transmitir raiva. Nós é que já vendemos um par de óculos escuros. Já espumam nossas bocas de ódio, entupidões no paradão, congestionado nas vias de espumas flutuantes do rio. Espumas de isopor exalando baunilha.

Os iniciados ao BDSM (Bondage, Discipline, Domination, Submission & Sado-Masoquism) têm um modo mais sofisticado de nomenclatura, apelidam os "coxinhas" de "baunilha". Representando o sabor infantil do pistilo da vanila como a posição "papai e mamãe". O tédio que eles sentem pelos baunilhas não se confronta ao tédio que dá no que concerne, em geral, aos coxinhas. Única e exclusivamente seria bom de viver numa época histórica se os fatos nos dessem entusiasmo. O ruim é incorporar o fato histórico e sentir seca, angústia, a alma seca junto ao falecido volume. Crente ao fato de que o volume morto emana toxinas alucinógenas, não me contento com a bad trip de tomar banho em água zumbi. Ruim é que a fonte não vem de Palmares. Parece mesmo que a juventude é uma fonte seca. Eu queria ter nascido em outra época. Lavo minhas mãos? Condiciona-se o ar nos cabelos repletos de shampoo e condicionador? Recicla-se a espuma que lá se esvai ralo adentro? E a boca espuma de ódio.

Quando você enterra um exército de desejos – meninos guerreiros – o corpo não acompanha. Parece que desaprendemos. E não faz bem voar tanto. É de perto que se vê o amontoado. A fila e a pilha de gente seca, antes de tudo. Nunca vi uma gota cair da bica, nunca vi brilhar, mesmo se polidos, a alma dos artistas de até 30 anos. E, se anunciam a luz, só faz parte de um evento.

Esse livro "O Fim da História da Arte", de Hans Belting (Cosac&Naify) – clareia para nós, ávidos de desejos (vampiros sem raiva), os muitos fins (sem meios) da história da arte. Da história e da arte. Fim da arte é uma coisa, mas o fim da história dela? Olha lá a propaganda do Telecine (no cinema) dizendo que tudo é história. Essa história já acabou faz tempo, menino. Lembremos do ambiente psicodélico do personagem indo se sentar para ouvir uma história, no "Rá-Tim-Bum". Era o quadro "senta que lá vem história".

O menino está num ante-lugar, num pré-espaço, num túnel do inconsciente, num rodopio. O vídeo não poderia fazer uma proeza dessas se tudo fizesse parte de uma história. O que todo mundo quer é versão. Ir pela lateral. Não é mais possível ir de frente, entusiasmado.

Uma mulher beija um homem, mas ela está de braços cruzados. É o que vi hoje, quando fui comprar jornal. Não sei se meus olhos estão secos e por isso vendo demais. Ruim vai ser se eu não conseguir chorar. Vai ver a estiagem é aqui dentro. E o jornal estava péssimo.

"Sempre que fico bêbado em um shopping, eu compro um cachorro".

(Zeca Pagodinho)

Edição: Samy Dana e Octavio Augusto de Barros.

Sobre o editor

Guilherme Mazzeo é coordenador institucional do GvCult, graduando em Administração Pública pela FGV-EAESP. Um paulista criado em Salvador, um ser humano que acredita na cultura e na arte como a direção e o sentido para tudo e para todos. A arte é a mais bela expressão de um ser humano, é a natureza viva das coisas, a melhor tradução de tudo. Só a cultura soluciona de maneira sabia e inteligente tudo, a cultura é a chave para um mundo melhor, mais justo, livre e próspero! Devemos enaltecer e viver nossas culturas de forma que sejamos protagonistas, numa sociedade invasiva e carente de: vida, justiça, alegria e força.

Sobre o Blog

O GV Cult – Núcleo de Criatividade e Cultura da FGV desenvolve atividades de criação, fruição, gerenciamento, produção e execução de projetos culturais e de exercícios em criatividade.