Por Silvia Goes. 

Algumas vezes gostaria de concordar com aqueles que acham que estudar música é muito complicado. Sei que não é, mas procuro entender o "por quê" dessa idéia. De certa forma, lá no fundo, bem disfarçada, essa questão tem lá a sua veracidade.

É muito mais fácil tocar do que estudar música, mas para tocar é preciso estudar o que se quer tocar, e para saber o que se quer tocar é necessário se conhecer.

Considero interessante abordar esse problema, tentando buscar onde realmente se encontram as dificuldades, para entender onde se forma esse conceito de difícil.

Com certeza não é na parte técnica.

O ser humano, em geral, se encanta com desafios que envolvem o físico – muito mais do que os mentais.

Tocar um instrumento, embora exija os dois (físico e mental), tendo o físico já é suficiente para qualificar alguém como instrumentista. Isso porque envolve a utilização das mãos com destreza – como se fosse um mágico, melhor, um prestidigitador.

Muito trabalho precisa ser feito para desenvolver uma técnica adequada em seu instrumento – são horas e horas de dedicação.

O aluno pode se concentrar na técnica e desenvolvê-la com precisão, mas pode também apenas desenvolvê-la sem se concentrar no som. Será perceptível a diferença apenas para aqueles que trabalham igualmente com a música, mas não para um público que apenas procurará pela sensação agradável de ouvir alguém tocando.

Essa busca pela velocidade no instrumento pode afastar o instrumentista da parte mental da música. Ou, como acontece em muitos casos, a procura pela velocidade vem justamente para criar um afastamento na área mental.

Dessa forma, o ponto que determina a complicação não é o da técnica. A velocidade pode ser (e com certeza é) trabalhosa, mas não é difícil. Já a atividade mental para realizar criações melódicas e harmônicas não exige horas de preparo físico, mas não acontece se não houver horas de percepção auditiva.

É um entregar-se a um nível de abstração que é o único caminho capaz de nos conduzir a soluções que não são numéricas, embora exatas e óbvias (depois que as encontramos)!!!

Enfim, é complicado estudar música?

Edição: Samy Dana e Octavio Augusto de Barros.