Sabido
Por André Dib.
Entrou no apartamento e fez algum comentário sobre a localização e a vista. Esses que um cego poderia fazer. Que não diz nada sobre nada e que não importa quem diz nem para quem. Poderia ser um comentário de revistas de fofoca, de um programa de televisão ou dito em uma corrida de táxi. Mas não importava. Era só para dizer alguma coisa.
Dali em diante, se iniciou uma série de comentários do mesmo tipo. Sobre o tamanho dos quartos, a qualidade do material, a história do edifício e assim por diante. Tinha dúvidas se não havia repetido cada comentário pelo menos 4 ou 19 vezes. Quando disse que aquele era o corredor que levava até a porta percebeu o quão inútil era o que dizia. Até mesmo o bebê que acompanhava o casal na visita do imóvel já havia percebido que aquele corredor levava até a porta. Teve vontade de dizer que para sair era só virar a maçaneta. Mas achou que os interessados saberiam disso.
De apartamento em apartamento dizia as mesmas coisas. Não necessariamente na mesma ordem, mas sim, eram as mesmas coisas. Se os possíveis clientes fossem mais descolados os termos seguiam o estilo descolado. Se fossem mais formais, a coerência também era a estratégia usada. Qualquer que fosse o cliente, só mudaria o vocabulário, o sotaque e a velocidade em que ficaria em cada cômodo. Sabia que os casais com maridos mais calados não resolveriam nada na hora. Olhariam tudo com pressa, sem fazer muitos comentários. Assim que a porta batesse nas suas costas, começariam a cochichar o que haviam achado do possível novo lar.
Cada qual, cada qual, como diria o outro. E era assim que era. Permaneceria ali, um figurante, que andava de cômodo em cômodo dizendo coisas ditas pela sua boca e não pela sua cabeça.
E nessa eterna busca por um lar, quem tinha mais certeza era o corretor. Sabia muito bem qual era o melhor de todos: o seu.
Edição: Samy Dana e Octavio Augusto de Barros.
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