Mulher
Por Carlos Bernardina Jr.
Pode ser infinito o amor dos místicos,
com suas metáforas inalcançáveis,
suas solidões apaixonadas,
de transcendentes convulsões.
E pode ser infinita a distância
que devemos percorrer dentro da noite clara
para enfim comungarmos deste amor.
Pode ser a distância aquela porta
para sempre fechada,
que devemos morrer para enfim atravessar (mo-nos)
até o abismo de nós mesmos.
Mas por que me pergunta essas coisas,
se delas não posso dizer?
Pois só concebo
aquilo que reverbera em meu corpo
para poder ultrapassá-lo:
a imagem aflita da sua voz
quando diz que me ama;
o som opaco do desejo
quando seu corpo me alcança;
o movimento espiralado
dessa dança sem olhos
que nossos átomos dançam
(sem crenças nem sombras)
quando se encontram.
Por isso te quis mulher,
assim, maciça
e cegamente,
no limite da animalidade
e da transparência,
entre a vaca
e a Grande Deusa.
Por isso ainda te quero,
mulher,
nem santa, nem fêmea,
habitando a estranha interseção
que traduz o vazio de que somos feito,
o vazio que nos sustenta.
Por isso te quero,
para me lembrar a todo instante
da terra sob meus pés,
e para saciar minha sede,
quando ela for insuportável.
E ainda te quero,
minha,
de mais ninguém,
louco de ciúmes,
na urgência indefinida
deste instante não pleno,
transfigurado pelo seu toque,
transcivilizado,
no interior da câmara claraescura
do nosso encontro.
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