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GV CULT - Criatividade e Cultura

Onde se encontra a identidade nacional hoje?

GVcult

22/02/2014 09h00

Por Luciana Garcia.

Este foi o convite mais incrível que já recebi: escrever sobre folclore em pleno… fevereiro! Claro, caindo em fevereiro ou em março, Carnaval é folclore em sua mais alta tradição, mas o fato é que, em nosso país, é hábito falar sobre nossas expressões folclóricas gerais apenas em agosto – o chamado mês do folclore.

Como autora de quatro livros sobre o assunto e pesquisadora há mais de dez anos sobre o tema, posso garantir que, embora seja absolutamente saudável e útil termos uma data específica para celebrar e lembrar nossas raízes culturais populares, a tendência é sempre no restante do ano o folclore ser absolutamente esquecido pelas escolas, pela mídia, pelo governo e pela população em geral. Que impacto, entretanto, isso pode ter da fato em nosso cotidiano?

Bem, para começar, o fenômeno mais pop pós-globalização em todo o mundo é o regionalismo: valorizar culturas locais tornou-se um grito de sobrevivência pela identidade de todos os povos, e com o Brasil não foi diferente. Além disso, nosso país tem um potencial turístico gigantesco, facilmente identificado – em especial na região da Amazônia, onde estrangeiros apreciam cada detalhe, cor, cheiro e movimento que o brasileiro comum nem sonha existir no seu território – e, sem dúvida alguma, potencializado por todos os tipos de manifestações folclóricas de nossas comunidades, das rendeiras cearenses ao chimarrão gaúcho.

A relação de itens em defesa do folclore, no entanto, continua firme: se fenômenos como Harry Potter se espalham pelo imaginário infantojuvenil (assim como pelo adulto) graças à mitologia celta e a outras referências lendárias clássicas e universais, no Brasil temos uma infinidade de mitos que continuam surgindo em pleno século XXI e que, embora raras pessoas tenham conhecimento, ultrapassam facilmente 150 personagens. Ora, que criança não é estimulada criativa e imageticamente quando em contato com seres como Curupira, Loira do Banheiro e Chupa-Cabras? Haveria fantasia mais completa e complexa que essa nos apelos industricomerciais das animações contemporâneas?

Finalmente, estamos vivendo um dos mais delicados momentos políticos da nossa história, em que os festejos da Copa do Mundo, outrora símbolo patriótico nacional, tornou-se o patinho feio da vez, graças às manchas de suspeita de corrupção e aos questionamentos sobre prioridades de gestão pública, de modo que tem restado aos cidadãos jogar sua autoestima no limbo ou resgatá-la por meio de representações mais profundas e úteis – existe melhor momento para abraçar a própria manifestação cultural emanada do povo?

Edição: Samy Dana e Octavio Augusto de Barros.

LucianaGarcia

Sobre o editor

Guilherme Mazzeo é coordenador institucional do GvCult, graduando em Administração Pública pela FGV-EAESP. Um paulista criado em Salvador, um ser humano que acredita na cultura e na arte como a direção e o sentido para tudo e para todos. A arte é a mais bela expressão de um ser humano, é a natureza viva das coisas, a melhor tradução de tudo. Só a cultura soluciona de maneira sabia e inteligente tudo, a cultura é a chave para um mundo melhor, mais justo, livre e próspero! Devemos enaltecer e viver nossas culturas de forma que sejamos protagonistas, numa sociedade invasiva e carente de: vida, justiça, alegria e força.

Sobre o Blog

O GV Cult – Núcleo de Criatividade e Cultura da FGV desenvolve atividades de criação, fruição, gerenciamento, produção e execução de projetos culturais e de exercícios em criatividade.