Antoni Gaudí, o legado da La Sagrada Família
Por Marcelo Coelho.
Não tenho palavras para descrever minhas impressões sobre La Sagrada Família, a inacabada obra do arquiteto espanhol Antoni Gaudí. A Catedral dos Pobres, como ele gostava de dizer, colocou Barcelona, a Cataluña e toda a Espanha no hall das mais importantes must see obras da humanidade.
As quatro torres da igreja são um prenúncio de que estamos diante de uma maravilhosa criação humana, fruto da capacidade criativa de uma mente inquieta. A reinterpretação dos textos sagrados do cristianismo, o culto à natureza e as referências ao cotidiano do homem através da transgressão dos limites da arquitetura e das artes visuais beiram o espanto.
Gaudí trabalhou por 43 anos na construção desta igreja, vindo a falecer aos 74 anos, atropelado por um bonde, em 1926. Seus estudos e anotações são, até hoje, as referências para os escultores que continuam a sua obra, ainda sem previsão de término.
Uma obra de arte órfã do seu criador que ainda se mantém em constante processo de criação me fez refletir sobre o potencial criador e o significado do termo 'legado' nas artes.
Um processo criativo artístico que se materializa e se apresenta como objeto de apreciação e catárse é o que se conhece por obra de arte. O conjunto da obra de um determinado artista é o que se chama de legado.
Apesar da quase unânime concordância acerca das afirmações acima, confesso que ainda tenho dúvidas desde a minha visita a Cataluña.
Sabe-se que a criação artística é resultante da afirmação de algumas escolhas em detrimento de outras. Nesse contexto, uma escolha pressupõe uma exclusão, o sim pressupõe o não, a construção contempla a destruição; aspectos necessários que acompanham o ato de criar.
No entanto, mesmo que concluída e acabada, uma obra de arte ainda suscita outras possibilidades de interpretação e recriação. Da definição surge a diversificação. O delimitar fomenta o ampliar.
Este princípio dialético é o 'potencial criador' que mantém sempre ativo o exercício da criatividade.
A humanidade goza do privilégio de poder acompanhar um processo criativo orgânico em andamento com La Sagrada Família. A razão para o ato continuum criativo deve-se ao potencial criador impresso à obra pelo artista, cujas intenções, aflições, estudos, questionamentos, reflexões e entrega de corpo e alma no ato da criação permeiam como aura a sua obra.
Compreendi, então, que o termo 'legado' nas artes não deveria se referir ao conjunto da obra, mas ao criador que materializou o processo de criação em obra. A constante expansão criativa, o potencial criador que inspira outros criadores, é o que ratifica a minha opinião.
Para mim, o legado do Cravo Bem Temperado chama-se Johann Sebastian Bach, da Monalisa chama-se Leonardo Da Vinci, e o da La Sagrada Família chama-se Antoni Gaudí.
E assim, junto com Gaudí e tantos outros legados, caminha a humanidade.
Edição: Samy Dana e Octavio Augusto de Barros.
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