Por Silvia Goes.

Imagine a partitura de uma música. Aquela que você está querendo tocar a um bom tempo, por exemplo. Ela está ali, na sua frente, com uma linha melódica e cifras. Como você já teve um professor, aliás, vários, já aprendeu os códigos musicais. Sabe ler as notas com seus respectivos valores e as cifras. Conhece os acordes. Aprendeu inclusive algumas distribuições. Alegra-se quando descobre que consegue tocar os acordes com a fundamental e sem ela (como se toca quando existe um baixista). Porém, uma sensação abstrata surge para tomar o lugar dessa certeza. Por que não está bonito? Ou ainda, está bonito, mas faltam aquelas notinhas que dão um colorido especial no caminho harmônico.

Algumas vezes é difícil aceitar, mas nem sempre o que parece exato no papel corresponde ao som que deveria acontecer. Sim, estou falando novamente da harmonia – aquele ser interior que temos e só conseguimos expressá-lo através de muita percepção e observação (e repetição).

Se a leitura de uma cifra dependesse somente de saber as notas que estão envolvidas naquele acorde, seria muito fácil. No entanto, para obtermos um resultado harmônico daquela leitura é preciso saber sobre todas as notas que estão envolvidas naquele acorde.

Não, eu não me confundi. Escrevi de fato a mesma coisa. E isso acontece porque as palavras escritas (ou lidas) podem representar o que quisermos. Elas são somente palavras sem som.

A interpretação de um texto (ou acorde) surge da intenção de quem expressa.

Quando você está lendo uma cifra, pode achar que deve ser fiel a ela, mas isso na verdade pouco importa. O que ela espera não é a sua fidelidade, mas sim a sua compreensão. Naquele momento, ali naquele papel, ela não existe ainda. Precisa que você a demonstre em seu instrumento. A cifra é de poucas palavras – não espere que ela diga tudo para você. Procure pelo som que está implícito, o som que está nas entrelinhas. Ela faz isso para que você possa ser único e que sua interpretação o torne um músico especial.

Lembre-se, a harmonia depende de você.

E assim, todos os músicos deste planeta podem pegar a mesma cifra, mas cada um irá demonstrá-la de acordo com sua percepção, observação, etc….. e alguns serão especiais.

Edição: Samy Dana e Octavio Augusto de Barros.