Cotas, ensino e luta contra nosso racismo
Por Gesley Fernandes.
Há mais de 100 anos o Brasil aboliu a escravidão e deveria desde esta época ter tido políticas para incorporar como cidadãos plenos esses que até então eram tratados como mercadorias e bens. Mas percebemos que nossa sociedade ainda não conseguiu sanar essa chaga e continua dividida entre a casa grande e a senzala.
Qualquer indicador social, que foque na questão racial, vemos que negros e negras são os mais assassinados, ganham salários menores (mesmo na mesma função que brancos) entre vários outros. O que nos interesse é fazer um recorte do ensino. Vemos que negros e negras acessam menos o ensino superior e quando esses o acessam estão menos ainda nas faculdades ditas de ponta.
Esse blog nasceu em uma dessas faculdades, a FGV São Paulo. Dificilmente vemos negros e negras em seus bancos como estudantes. Mais difícil é um negro do outro lado, dando aula. Não temos professores negros na EAESP. Mas podemos perceber no dia a dia dessa faculdade que existem sim inúmeros negros e negras que circulam em seu campus. Eles estão lá em funções como bedéis, serventes, faxineiros, etc.
Aqui entramos no aspecto perverso de nossa sociedade racista, dificilmente esses negros que circulam pela FGV SP terão chances de sentar em seus bancos escolares. E a situação se repete na maioria das faculdades de ponta ou locais de ensino que se destaquem acima da média. Os negros e negras não entram nesses ambientes naturalmente. E aqui surge a urgência da politica de cotas ser posta em prática em aspecto amplo.
E tenho que fazer uma ressalva, pois muitos confundem e misturam dois assuntos que se interligam, mas são diferentes. As cotas sociais (facilitar o acesso para pessoas de baixa renda) são diferentes de cotas raciais (facilitar o acesso para pessoas negras), e as duas não se anulam. Independente da renda, em nossa sociedade ainda muito racista, os negros acessam menos os equipamentos educacionais chamados de qualidade, e para isso precisamos de uma politica de cotas específica. Se, além disso, nosso país também é profundamente desigual na sua distribuição de renda (que pelo nosso racismo também recai mais fortemente em negros e negras), isso deve ser alvo de outra política de cotas. E ambas não se anulam, podem e deveriam ser adotados por todos as unidades de ensino que quiserem fazer parte de uma políticas publica que quebre nosso racismo e a injusta distribuição de renda.
Nosso país ainda deve, depois de 125 anos, realizar uma ampla política que agregue negros e negras de forma plena em nossa sociedade. Lutar contra as barreiras de entrada desses em equipamentos de ensino é um passo urgente e que já deveria ter sido adotado há muito tempo. Recentemente o governo federal adotou cotas para o funcionalismo público federal, que esse seja um primeiro passo para a ampliação da política de cotas raciais e que principalmente essas ampliadas em outras esferas de governos e em outros setores, como a educação, e principalmente esse seja um passo para que os próximos dias da consciência negra tenham como marcas grandes avanços no combate ao racismo de nossa sociedade.
Edição: Samy Dana e Octavio Augusto de Barros.
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