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GV CULT - Criatividade e Cultura

Escolha o seu Caminho

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30/06/2016 18h25

Por    Marcio Samia

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Numa noite no Caminho de Santiago, após uma deliciosa e animada conversa regada a um bom vinho local juntamente a várias pessoas na hora do jantar, o hospitaleiro do albergue nos anunciou que já era hora de deitar – em alguns albergues essa regra é cumprida à risca, e se torna fundamental para que o peregrino descanse bem para começar a caminhada novamente no dia seguinte.

Ao me dirigir para o quarto, ainda feliz com as histórias que tinha ouvido e contado, parei em frente um pequeno quadro que continha uma frase do nosso escritor Paulo Coelho. A frase dizia:

"O homem precisa escolher – e não aceitar – o seu destino"

Na hora não dei muita importância, pois estava empolgado com os demais peregrinos. Aliás, ter dormido cedo foi fundamental pois no dia seguinte caminharia cerca de 32 quilômetros para chegar até a cidade de Muxia, onde, me disseram, eu avistaria um lindo pôr do sol. Eu estava chegando ao final da minha jornada, e em mais três dias deveria tomar um avião e retornar à minha rotina diária.

O dia amanheceu agradável. A caminhada, apesar de longa, foi tranquila e a chegada em Muxia foi realmente uma surpresa. O lugar é lindo e repleto de histórias em torno das pedras que ficam de frente para o mar. Aguardar o pôr do sol foi uma delícia, só não sabia que seria tão tarde. Já era quase 21h quando finalmente pude avistar uma das cenas mais bonitas que já registrei. Junto com o sol, meus pensamentos foram longe e comecei a me lembrar das pessoas e das histórias que cruzei nessa viagem fantástica.

Em meio aos meus pensamentos, a recordação dos motivos que me fizeram iniciar, 30 dias antes, aquela caminhada. Minha rotina, minha vida, meus problemas… porque eu estava fazendo aquilo com minha vida? Eu estava realmente feliz?

Aquela viagem havia feito mudanças profundas em mim. Trinta dias de caminhada e tanta gente que conheci e que resolveu seguir seus sonhos foi muito importante para me ajudar a entender que eu não precisava mais aceitar o que me era apresentado como ideal, mas que não me fazia vibrar. Eu era o dono da minha história. E se alguém poderia fazê-la diferente – a partir daquele instante – esse alguém era eu.

De maneira nenhuma isso significava que seria fácil, mas como me questionou uma peregrina que deixou seu país e suas certezas para se dedicar a cuidar de crianças em Moçambique, "se fosse fácil todo mundo faria, mas o que é que te move de verdade?".

Os pensamentos estavam fluindo soltos. Inevitavelmente me lembrei daquela frase da noite anterior. Eu queria poder escolher meu destino, e eu sabia que era muito fácil (e cômodo) colocar a responsabilidade pelas minhas frustrações no fato de ter crescido numa família tradicional, conservadora… era mais fácil ainda responsabilizar uma outra pessoa pelo fato de não conseguir chegar onde queria (minha família, meu chefe, os governantes do meu estado ou país…). Era hora de enfrentar a realidade e assumir que eu me encontrava numa terrível e aconchegante zona de conforto. E pior: não sabia como me livrar dela.

Colocar a desculpa no passado, na história que eu havia trilhado até ali era realmente muito fácil. Era preciso mudar a mim mesmo. Só assim conseguiria ser o protagonista da minha história.

Olhei para aquela viagem incrível, onde percorri a pé mais de 800 quilômetros e percebi que essa caminhada só foi possível porque em algum momento eu dei o primeiro passo. Entendi assim que quando queremos algo precisamos, de alguma maneira, tirar o sonho da nossa cabeça e começar. Mesmo que o final da caminhada ainda esteja muito distante, mesmo que a concretização dos nossos objetivos ainda seja algo nebuloso, era preciso sair do lugar onde me encontrava e agir. Somente assim eu chegaria em algum lugar.

Quando dei por mim a noite já havia caído por completa e o sol já havia mergulhado no oceano. Era quase 23h. A partir daquele momento eu precisava cultivar novos hábitos se quisesse construir uma nova história. O passado não importava mais. O futuro estava muito distante ainda. O único momento que me restava era o agora. O momento mais importante da nossa vida.

O que você está fazendo "agora" para que seus sonhos possam ser realizados?

Um grande abraço. Nós nos veremos, Evoluindo por aí!

Edição      Enrique Shiguematu

Samia nova bio

Sobre o editor

Guilherme Mazzeo é coordenador institucional do GvCult, graduando em Administração Pública pela FGV-EAESP. Um paulista criado em Salvador, um ser humano que acredita na cultura e na arte como a direção e o sentido para tudo e para todos. A arte é a mais bela expressão de um ser humano, é a natureza viva das coisas, a melhor tradução de tudo. Só a cultura soluciona de maneira sabia e inteligente tudo, a cultura é a chave para um mundo melhor, mais justo, livre e próspero! Devemos enaltecer e viver nossas culturas de forma que sejamos protagonistas, numa sociedade invasiva e carente de: vida, justiça, alegria e força.

Sobre o Blog

O GV Cult – Núcleo de Criatividade e Cultura da FGV desenvolve atividades de criação, fruição, gerenciamento, produção e execução de projetos culturais e de exercícios em criatividade.