Criança e política
Por Luciana Garcia.
Quando fiz 16 anos de idade, fui correndo tirar o título de eleitora. Eu esperava por esse momento desde criança. Infelizmente, depois de tê-lo em mãos, tive de esperar mais um ano para poder utilizá-lo, porque 1993 não era ano de eleição!
Mas a moral da história é que, de lá para cá, absolutamente nada mudou: mesmo com diversos quadros políticos desinteressantes – para não dizer decepcionantes –, o ato de votar e de me satisfazer por cumprir meu papel de cidadã (não como dever cívico, mas como poder cívico mesmo, de ter autonomia de fazer minhas escolhas) propicia em mim o mesmo entusiasmo desse tempo vinte anos depois.
O milagre para tal envolvimento nada mais é do que a educação. Desde muito criança, meu avô discutia política comigo abertamente e respondia a qualquer dúvida que eu fizesse. Ele falava sobre a importância das escolhas dos nossos representantes e do impacto que eles tinham em nosso dia a dia, assim como sobre as diferentes abordagens que a mídia e os próprios partidos faziam a cada eleição, despertando em mim muito cedo o censo crítico que talvez tenha até mesmo me conduzido à escolha da carreira jornalística.
A criança precisa receber todos os cuidados, carinhos e diversões inerentes à sua idade, mas isso não impede (muito pelo contrário!) que aguce sua mente com reflexões complexas a respeito dos processos de governança, administração e consciência social que fazem parte da vida adulta. A única diferença é que essa consciência se dá aos poucos e respeitando seu ritmo e sua curiosidade. Não devemos querer "fazer a cabeça" de uma criança a respeito de uma posição partidária, ou obrigá-la a acompanhar o noticiário político, porque esse tipo de atitude teria o efeito contrário de repelir o interesse, mas esclarecer sua curiosidade a respeito do processo que vem se desenrolando no país e explicar os motivos de nossas escolhas certamente a prepararão para que, no futuro, ela tenha sua própria condução reflexiva, comparando as informações apuradas e sua experiência de vida, e sem dúvida desenvolvendo maior autoconfiança para tomar decisões importantes em diversos outros aspectos.
Eleição não é sinônimo de política, mas é um momento importante do processo político e uma excelente oportunidade para partilhar experiências desse âmbito com as crianças. A atitude política, entretanto, revela-se em muitas outras situações, desde um engajamento voluntário em alguma instituição social até a proatividade ou o protagonismo na defesa de alguma mudança necessária em determinado momento e espaço. A criança aprende pela conversa, mas, acima de tudo, aprende pelo exemplo, e é pela coerência entre discurso e prática visualizada no comportamento dos pais ou dos adultos de sua referência que ela estabelecerá sua base crítica.
Edição: Samy Dana e Octavio Augusto de Barros.
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