Antologia de poemas (IV)
GvCult - Uol
04/10/2022 07h18
Por Bernardo Buarque de Hollanda
Manhã na concha das mãos
Murmúrio cristalino,
Espuma prateada.
E vem um menino
Na onda ensolarada.
Biblioteca sentimental
Como uma frondosa castanheira,
que encobre o céu com sua copa,
vejo a estante de meu avô,
cacheada de livros muito antigos.
Indevassável, perco-me na vastidão de ramos,
Até que um fruto maduro cai.
Envergo-me e colho-o ao chão
Apalpo a casca espessa, roço suas folhas,
Quando, à face de uma página, brota a imagem de vovô,
Deitado em sua rede, a rir e a se balançar.
Dom Quixote, Policarpo Quaresma, Clara dos Anjos.
Solitária leitura, solitários personagens
Que, na poeira do tempo,
Vô Pedro deixou com bondade.
De uma aldeia portuguesa
Aninham-se os olhos da anciã no interior da casa,
Silente morada.
Portas cerradas, janelas anoitecidas.
Repousam, embora, ainda
Naveguem sob o véu da memória,
A trazer o mar, a ilha, a infância…
Edição Final: Guilherme Mazzeo
Sobre o editor
Guilherme Mazzeo é coordenador institucional do GvCult, graduando em Administração Pública pela FGV-EAESP. Um paulista criado em Salvador, um ser humano que acredita na cultura e na arte como a direção e o sentido para tudo e para todos. A arte é a mais bela expressão de um ser humano, é a natureza viva das coisas, a melhor tradução de tudo. Só a cultura soluciona de maneira sabia e inteligente tudo, a cultura é a chave para um mundo melhor, mais justo, livre e próspero! Devemos enaltecer e viver nossas culturas de forma que sejamos protagonistas, numa sociedade invasiva e carente de: vida, justiça, alegria e força.
Sobre o Blog
O GV Cult – Núcleo de Criatividade e Cultura da FGV desenvolve atividades de criação, fruição, gerenciamento, produção e execução de projetos culturais e de exercícios em criatividade.