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Os verdes anos de José Lins do Rego: genealogia de um livro de memórias

GvCult - Uol

01/06/2021 10h12

José Lins do Rego – Imagem da Internet

Por Bernardo Buarque De Hollanda

Um dos artigos mais marcantes de minha formação acadêmica foi "Relações de parentesco e propriedade nos romances do 'ciclo da cana', de José Lins do Rego", de autoria do antropólogo José Sérgio Leite Lopes. O texto foi publicado originalmente em 1973, a partir de um trabalho de final de curso do autor no mestrado do Museu Nacional daquele período. Inspirado por seu exemplo, propus-me esquadrinhar o livro de memórias Meus verdes anos, procurando identificar os personagens em meio a uma árvore genealógica de cunho patriarcal, típica da história de formação do Nordeste açucareiro.

O livro a ser dissecado foi provavelmente escrito em 1955, pois seu autor assina a apresentação em janeiro de 1956. José Lins contrasta a infância bucólica descrita por Casimiro de Abreu à sua triste infância, onde o abando e a doença lhe deu um caráter melancólico. Persegue-o o traço fúnebre, com a descrição de um tormento: "Era a morte que me cercava". Para além da obsessão tanática do escritor, vamos aos nomes e às personagens da trama memorialística:

Genealogia:

Trisavô materno – Tio Leitão, presidente da Paraíba, lutou contra os revolucionários de Pernambuco.

Bisavô materno – João Álvares, senhor de engenho, homens de muitas posses e reconhecida brabeza, oficial na guerra de 1848, que ganhou contra Borges da Fonseca.

Tio-avô – Jerônimo (irmão do avô) tinha uma amante, sinhá Germínia; Quinca Leitão (Engenho Novo), vivia com uma parda chamada Teresa, não era homem de muitos irmãos, mas foi morto por envolvimento com uma mulher chamada Calu; Desembargador Lourenço Bezerra Vieira de Mello; José do Jardim.

Prima da avó – Felismina (do engenho de Itambé).

Avó materna – a velha Janoca (sobre quem o autor diz não gostar).

Avó paterna – Antônia, ou velha Totônia.

Avô paterno – José do Rego, rico senhor de engenho.

Tias – Maria (casada com o primo Henrique, filho de Lola do Outeiro, inimigo do avô Bubu; filha Luci, mãe de Maria Emília, a quem o pai deu o engenho Itapuá); Naninha (casada com Rui de Sinhô Marinho, mãe de Hipólito e Virgínia, segunda mãe de Zélins); Iaiá (a mais velha, casada com Trombone (José Francisco de Paula Cavalcanti, sobrinho do tio Zezé); Mercês (engenho Santo Antônio, casada com um bacharel, Dr. Joaquim Moreira Lima, juiz em Pilar, morre ao dar à luz); Marocas (do engenho Gameleira; educação de colégio de freira, casa com tio Lourenço); Doninha, que morava na capital Paraíba.

Tios: Joca do Maravalha (filhos legítimos e bastardos) "tinha filhos mais novos que os netos"; tio Lourenço, chefe do Itambé e Timbaúba, era grande na política da Paraíba (pai de Raul, deputado em Recife); Tio João (do Recife).

Primos – Gilberto (morte), Raul, Baltasar (casado com Sinhá Chica), Silvino, José (filhos de Mercês), Neco Costela (sobrinho do brabo Chico Leitão da Fazendinha); Primo Lola, dono do Outeiro (marido mau de Sinhazinha, irmã de Bubu).

Primas – Lili (morte); Doninha, casada com Pedro Marinho e mãe de Julita (visitas de tia Maria), Marocas (casada com Dr. Godói), Iaiá de Barros (linda moça), Nana Lopes. "As primas falavam francês entre elas". Marido da prima Sinhazinha, João Vieira (presidente da província de Alagoas); Carolina (beata, prima distante, chamava Zé Lins de herege).

Personagens sem relação direta de parentesco

Empregados – a negra Maria Pia, a velha Galdina (negra africana, chamada vovó), a negra Generosa (escrava), Avelina (ajudante de Generosa, mãe de Marta, que faz a iniciação sexual de Zé Lins), França (escrava nascida antes do ventre-livre, transfigurava-se após a bebida), Joana (parda vinda do Itambé). Tinham vários filhos, com diversos homens. Firmina, filha natural de Bubu, irmã de Julita, mulher de Antônio Patrício, administrador do Itapuá. A negra Luísa. Tia Maria Gorda, africana sobrevivente, escrava dos Leitão, das Figueiras. Romana (mãe de Isidro).

Mestres: Francelino – casa-de-purgar de taipa, mel-de-furo, caixões de maçaranduba para açúcar branco, formas de zinco, açúcar mascado; João Miguel – destilação de aguardente, casado com sinhá Maricas, costureira, fofocas, mexericos; Aprígio Baé, Amâncio (tirador de leite); Fausto (filho natural do avô, responsável pela máquina de moer); Cândido (ex-escravo, na casa das caldeiras, pai de Francelino); Chico Targino (carreiro). Chico Marinho (feitor).

Agregados – bicheiro Salvador; negro Domingos Ramos (protegido de Janoca); Zé Guedes; negro José Alves e Chico Preto.

Moleques do pastoreador – Ricardo (o mais moço, de sua idade, filho de Avelina e afilhado de Naninha), Manuel Severino (o mais taludo, masturbação).

Amigos do avô – o velho Lula de Holanda, do Santa Fé; José Maria: bacharel que trazia notícias da política; o velho Manuel Viana, cujo neto Valdemar foi o primeiro amigo fora da família. Dr. Carvalhinho: conversas de política, senhor de engenho das praias… Senhor Lucindo e suas meninas (vizinhança).

Personagens populares: estribeiro Cristóvão; vaqueiro Antônio, do Engenho Novo, terras inimigas do primo Dr. Quinca; pedinte, o negro Manuel Pereira; cego Torquato, com notícias de Antônio Silvino (escondido no sertão do Cariri); Vitorino Carneiro da Cunha, Papa-Rabo, aparecia nos dias de festa; Neco Paca, vendedor de ovos, tinha fama de lobisomem; Chico Pechincha: vendedor de passarinhos nas feiras; Mestre Paizinho, Chico Barbeiro. Belarmino, condutor e maquinista, Antônio faroleiro.

Freguês do sertão do avô: Félix Touca. Contrabandistas de aguardente.

Antônio Brás: protegido de Quinca do Engenho Novo. 10 mulheres dentro de casa. De manhã trabalhavam, de noite pegavam na enxada. Tinha mais de 30 filhos.

Médico da Paraíba: doutor Sá Andrade, Hardman.

Mercadores: Arthur, Zé Vítor (bebia muito, vendia peças de chita, parecia com Anatole France).

Raparigas: Zefa Cajá ("Parda de cabelos curtos, filha de uma escrava com gente branca". Desgraçara a vida de um soldado. "Tem fogo de assentamento por debaixo da saia"; doenças-do-mundo).

Major Ursulino: matador de escravos, vindo de Goiânia com os barões de Pernambuco.

Rute, anã. Aleijão.

Professores: Doutor Figueiredo (a pedido de um político da Paraíba, vai morar no engenho Corredor): primeiro professor, casado com dona Judite.

Políticos: Governador Valfredo. Doutor Gouveia, presidente de província, advogava no Pilar.

Edição Final: Guilherme Mazzeo

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Sobre o editor

Guilherme Mazzeo é coordenador institucional do GvCult, graduando em Administração Pública pela FGV-EAESP. Um paulista criado em Salvador, um ser humano que acredita na cultura e na arte como a direção e o sentido para tudo e para todos. A arte é a mais bela expressão de um ser humano, é a natureza viva das coisas, a melhor tradução de tudo. Só a cultura soluciona de maneira sabia e inteligente tudo, a cultura é a chave para um mundo melhor, mais justo, livre e próspero! Devemos enaltecer e viver nossas culturas de forma que sejamos protagonistas, numa sociedade invasiva e carente de: vida, justiça, alegria e força.

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