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A fotografia errante de Sebastião Salgado

GvCult - Uol

18/12/2018 06h08

Fonte: http://lounge.obviousmag.org/cafe_nao_te_deixa_mais_cult/2014/04/por-de-tras-das-fotografias-de-sebastiao-salgado.html

Por    Bernardo Buarque de Hollanda

Sebastião Salgado nasceu em Aimorés, pequena cidade mineira próxima ao Espírito Santos, no ano de 1944. Mudou-se para Vitória, capital capixaba, onde estudou economia e se casou com Lélia. Anos mais tarde, transferiu-se para São Paulo, cidade que o impressionou pela pujança urbana. Em 1967, fez o curso de mestrado da USP e engajou-se na militância política de esquerda contra a ditadura militar. Após a implantação do AI-5 em 1968, Sebastião Salgado, sem depositar esperança na luta armada, optou pelo exílio na Europa, onde vive até hoje, mais precisamente em Paris. Concluiu o doutorado na Universidade de Sorbonne no início da década de 1970. Possuía um emprego estável na Organização Mundial do Café, em Londres, quando decidiu ingressar na fotografia, em 1973.
Muitas pessoas procuraram dissuadir Salgado dessa profissão, dizendo que a fotografia, principalmente em preto & branco, era um instrumento anacrônico. Mas o argumento não o convenceu. Após uma viagem à África, continente que o aproxima do fotojornalismo, Sebastião registra a seca em Sahel no mesmo ano de 1973. Entre 1977 e 1983, o fotógrafo brasileiro, já podendo regressar ao seu país natal, depois da anistia política em 1979, realiza uma série de incursões ao continente americano, enfocando a vida dos camponeses, e publica o livro de fotos Outras Américas. Em 1979 também, ele ingressa na agência fotográfica Magnum, onde até hoje trabalha.
Na década de 1990, intensifica suas viagens ao redor do mundo e efetua uma notável pesquisa que resulta na obra Trabalhadores. Nela, o fotógrafo identifica o fim de uma era, a do trabalho manual, consequência direta dos efeitos da Revolução Industrial no planeta. Combinando sua sensibilidade estética com seu embasamento teórico e econômico, Sebastião Salgado firma-se como o repórter-artista de um livro que constitui uma antologia do final do século XXI.
Em 1997, Salgado, profundamente afetado com a expulsão do homem brasileiro do campo, adere à mobilização do Movimento dos Sem-Terra no país, em prol da reforma agrária. Lança o volume Terra, em capa dura, numa parceria com o compositor brasileiro Chico Buarque e com o escritor português José Saramago. O objetivo das três personalidades era sensibilizar a opinião pública à época quanto à urgência na democratização do acesso à terra no Brasil.
No ano de 2000, vem a lume o ambicioso projeto Êxodos, fruto de uma atividade fotográfica de sete anos. Nele pode-se perceber que a edição Terra constituíra parte do grande tema que norteia a ótica de Salgado: o processo maciço de deslocamento humano no mundo contemporâneo. Tal deslocamento, a ocorrer simultaneamente em vários pontos da terra, é resultado da imensa exclusão econômica a que está relegada a maioria da população do globo. As guerras civis, as repressões policiais aos migrantes nas fronteiras entre os países ricos e pobres, todos os tipos de violência desencadeados com a explosão demográfica nas grandes cidades e as lutas camponesas pelo direito à produção são as marcas latentes do limiar do século XXI.
A identificação de Sebastião Salgado com a temática dos refugiados talvez encontre razão na sua própria trajetória de vida: a condição de exilado. Mas, para ele, a finalidade de seu trabalho é a de pensar o futuro do ser humano, é a de provocar a reflexão sobre a condição humana no novo milênio e é a de abrir a discussão com as novas gerações a respeito da vida na terra.
A sua conclusão mais elementar é a de que a desagregação do mundo resulta da ganância e do individualismo predatório. A sua esperança mais profunda é a de que suas fotos possam contribuir para despertar no ser humano a necessidade de construir uma vida solidária.

 

Edição     GUILHERME MAZZEO

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Sobre o editor

Guilherme Mazzeo é coordenador institucional do GvCult, graduando em Administração Pública pela FGV-EAESP. Um paulista criado em Salvador, um ser humano que acredita na cultura e na arte como a direção e o sentido para tudo e para todos. A arte é a mais bela expressão de um ser humano, é a natureza viva das coisas, a melhor tradução de tudo. Só a cultura soluciona de maneira sabia e inteligente tudo, a cultura é a chave para um mundo melhor, mais justo, livre e próspero! Devemos enaltecer e viver nossas culturas de forma que sejamos protagonistas, numa sociedade invasiva e carente de: vida, justiça, alegria e força.

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O GV Cult – Núcleo de Criatividade e Cultura da FGV desenvolve atividades de criação, fruição, gerenciamento, produção e execução de projetos culturais e de exercícios em criatividade.

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