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Cinema Moderno nos Estados Unidos

GVcult

19/09/2013 09h00

Por Renata Castanho.

Informações gerais

O cinema moderno americano surge em Hollywood como reação ao que vinha sido feito no cinema americano dos anos anteriores. Muito voltada para o entretenimento, a primeira Hollywood alcançava sucessos de bilheteria com estrelas como Marilyn Monroe em histórias de amor, muitas vezes com um toque de comédia. Em um mundo de mocinhos e vilões, em que a criação de tipos simplificava bastante as personagens, o telespectador tinha as informações colocadas de uma maneira leve e linear, e de certa forma "digeridas", pois tudo no filme parece trabalhar para que a história seja completamente compreendida logo na primeira vez que for assistida. Tudo isso associado, é claro, ao american way of life, onde a liberdade e a busca da felicidade aparecem com forte tom de ideologia. Se inocência e otimismo são palavras-chave nesse primeiro momento do cinema hollywoodiano, ele terá uma reviravolta com o início da Segunda Guerra Mundial.

A guerra, como um conflito que traz diversas baixas nos Estados Unidos e, com elas, uma onda de incertezas, altera o olhar do americano para as questões da arte e da vida. O cinema recebe esse novo problema e encontra soluções totalmente novas para a questão da representação da realidade: o lazer deixa de ser um objetivo central e o cinema passa a ter uma clara divisão entre entretenimento e arte. Hollywood passa então a produzir filmes do assim chamado cinema moderno, onde a mudança ocorre nos temas, na forma, na linguagem e no tipo de espectador. Diretores começam a fazer filmes onde não existe mais lugar para o óbvio, e muitas vezes o sentido da obra fica em aberto, deixando mais espaço para a interpretação do espectador. Os filmes fazem uma análise do psicológico e do social, criando o espaço da discussão e do debate no cinema: exemplo disso é, por exemplo, o filme Cidadão Kane, de Orson Welles, onde não existe mais uma clara divisão entre o bom e o mau, e o personagem é construído com grande complexidade e diversos pontos de vista.

Outro fator que vem a influenciar o cinema hollywoodiano é o surgimento da TV, que quebra o monopólio dos estúdios de cinema e a influência dos produtores, dando cada vez mais autonomia para os diretores como Samuel Fuller, Alfred Hitchcock, Billy Wilder, Howard Hawks e Orson Welles. Dessa forma, existe mais liberdade na produção de cinema, e as produtoras, que criavam contratos longuíssimos com seus atores, perderam sua força homogeneizadora. Por isso, para conhecer o cinema moderno nos Estados Unidos, é fundamental conhecer bem seus diretores.

Orson Welles e o Cidadão Kane

Orson Welles tornou-se um dos diretores de cinemas mais ilustres de Hollywood graças a seu filme de estréia, que até hoje é considerado um dos melhores filmes de todos os tempos. Ex-locutor de rádio, Welles era conhecido por sua extrema habilidade em narrar histórias, virtude que veio a ter plena realização no cinema.

Cidadão Kane apresenta uma interessante fusão entre elementos do cinema clássico e do cinema moderno, e talvez por isso tenha tido tanto sucesso de bilheteria. Com estruturas clássicas como a organização da narrativa com começo, meio e fim, além de narrar a jornada de um herói ao longo dos acontecimentos principais de sua vida, o filme insere em Hollywood a documentalização da ficção, estratégia que outorga à narrativa um tom de realidade.

Em termos mais técnicos, é interessante observar no filme a presença da profundidade da câmera com planos amplos que permitiam ao espectador observar o que desejasse, construindo sua própria ótica da história, sem a "imposição" da visão do diretor.

 

Informações técnicas:

Título original: Citizen Kane

Diretor: Orson Welles

Duração: 119 min.

Data de lançamento: 16 de junho de 1941

Gênero: Drama

 

Alfred Hitchcock e Disque M para matar

Assim como Orson Welles, Hitchcock retoma características do cinema clássico para, a partir daí, inserir suas experimentações. Alguns de seus traços mais interessantes  são a dilatação do tempo em cenas de importância para o filme – esse recurso, que muitas vezes beira o inverossímil, ajuda na construção da tensão no filme, onde o espectador está sempre à espera de um futuro iminente e inevitável. Isso cria uma expectativa, onde tudo no filme é construído para um grande final.

Disque M para matar é um ótimo exemplo da qualidade artística de Hitchcock. Toda a narrativa do filme é construída em volta de um núcleo, o de uma tentativa de assassinato. A história, complexa e bem construída, vai sendo apresentada ao espectador aos poucos, com informações dispersas que pedem a reflexão. Além da genialidade na construção do suspense e do desenlace da história, o filme apresenta diversas soluções artísticas como o ângulo da câmera, os cortes de cena e a escolha das cores, que vão se tornando mais acinzentadas ao decorrer do filme. O espectador atento encontrará diversas surpresas ao longo do filme.

 

Informações técnicas:

Título original: Dial M for Murder

Diretor: Alfred Hitchcock

Duração: 105 min.

Ano de lançamento: 1954

Gênero: Suspense, policial

Edição: Samy Dana e Octavio Augusto de Barros.

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Sobre o editor

Guilherme Mazzeo é coordenador institucional do GvCult, graduando em Administração Pública pela FGV-EAESP. Um paulista criado em Salvador, um ser humano que acredita na cultura e na arte como a direção e o sentido para tudo e para todos. A arte é a mais bela expressão de um ser humano, é a natureza viva das coisas, a melhor tradução de tudo. Só a cultura soluciona de maneira sabia e inteligente tudo, a cultura é a chave para um mundo melhor, mais justo, livre e próspero! Devemos enaltecer e viver nossas culturas de forma que sejamos protagonistas, numa sociedade invasiva e carente de: vida, justiça, alegria e força.

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O GV Cult – Núcleo de Criatividade e Cultura da FGV desenvolve atividades de criação, fruição, gerenciamento, produção e execução de projetos culturais e de exercícios em criatividade.

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