As palavras de Guimarães Rosa (I): Manuelzão e Miguilim
Por Bernardo Buarque de Hollanda
Depois de apresentar o universo vocabular de Euclides da Cunha em Os sertões, iniciaremos uma série de cinco textos com as palavras da ficção de João Guimarães Rosa. Para começar, selecionamos a novela Manuelzão e Miguilim, inscrita na obra Corpo de baile (1956). Ao incorporar o linguajar regional característico dos personagens, o escritor mineiro permite que se evidencie como a construção da linguagem opera também a elaboração do modo de pensar – ou matutar – e do modo de ver o sertão – logo, o mundo –, em meio ao seu artesanato de imagens: "ele subia mais primeiro".
Miguilim é um personagem que aflora as primeiras sensações, indagações, inquietudes e os primeiros sentimentos, tatos, gestos de um menino-moleque. É um ser ainda em formação, de caráter movediço, a descortinar as coisas da vida. Já Manuelzão é um ser no pôr-do-sol da experiência, a resignar-se ao ocaso e ao declínio.
Vejamos uma antologia de palavras e de seus significados:
– Cagaiteira: árvore da família das mirtáceas, abundante nos cerrados de folhas oblongas e coriáceas, flores pequenas, alvas e dispostas em curtas inflorescências cimosas, e cujos frutos são bagas amarelas, muito sucosas, agradáveis de comer.
– Caraíba: árvore típica do cerrado, da família das bignoniáceas, de casca submersa e grossa.
– Chapada: planalto, clareira, esplanada no alto de um monte, de uma serra, qualquer espécie de vegetação rasa, sem arvoredo.
– Cirigado: do Nordeste, gado pintado ou pontuado.
– Gaturamo: do tupi, "o que será bom". São pássaros pequenos, de dorso azulado, ou esverdeado, região ventral amarelado, frugívoros, e muito apreciados em viveiros ou gaiolas, por seu canto e suas cores ornamentais. Tem-tem, guturamo, teitei, tieteí, vim-vim, bonito-do-campo. Gaturamo-miudinho, gaturamo-rei, gaturamo-serrador, gaturamo-verdadeiro, gaturamo-verde.
– Jequitibá: êta nome lindo!
– Juriti: do tupi, aves columbiformes, distribuídos por todo o Brasil, de coloração geral parda, com tons avermelhados, oliváceos ou brancacentos. Frequentam o fundo dos quintais ou as roças no interior, e têm canto agradável e nostálgico.
– Maringá: diz-se de bovídeo ou do caprino de pelo claro salpicado de negro.
– Quaxinduba: do tupi, árvore leitosa, da família das moráceas, comum nas matas úmidas, de folhas coriáceas e luzidias, e cujo látex é dotado de propriedades vermicidas, por conter enzimas que atacam o revestimento mucoso protetor dos vermes, gameleiras, figueira-brava.
– Taioba: do tupi, taya'oba, folha de taiá, erva da família das aráceas, originária da América Tropical e muito cultivada como alimento, de folhas longamente pecioladas e sagitadas, de tonalidade azulada, e que, picadas e cozidas, servem como couve.
– Tingui: do tupi, arvoreta vulgar nos cerrados, caracterizada pelas grandes cápsulas lenhosas e triangulares, e cujas sementes são aladas e amplas, contendo óleo.
– Tocoió: certa raça bovina do norte de Minas Gerais.
– Urdidura: conjunto de fios dispostos no tear paralelamente ao seu comprimento, e por entre os quais se passam os fios da trama, urdume, urdimento.
– Zaino: cavalo castanho-escuro sem mescla, cavalo sem malhas brancas, que têm pelo preto e pouco brilhante.
Edição Final: Guilherme Mazzeo
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