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GV CULT - Criatividade e Cultura

Em busca da felicidade

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25/01/2016 06h29

felicidade

Cansado de andar, após quase 30 quilômetros de caminhada, resolvi sentar à sombra de uma árvore para descansar um pouco. Era um dia ensolarado, com uma brisa suave que levemente alisava meu rosto. Recordo que peguei uma fruta, uma laranja talvez, e abri um livro que carregava comigo. O livro era do nosso "poeta das coisas simples", Mario Quintana, ideal pra ler num lugar onde as coisas devem ser o mais simples possível. Eu estava no 20º dia da minha caminhada rumo a Santiago de Compostela.

Um texto em particular me chamou a atenção:

"DA FELICIDADE

Quantas vezes a gente, em busca da ventura, 

procede tal e qual o avozinho infeliz:

em vão, por toda parte, os óculos procura

Tendo-os na ponta do nariz!"

 

Fechei o livro e fiquei ali por quase uma hora, descansando e pensando naquilo. Pensando em como as pessoas atualmente buscam, quase que freneticamente, um sentido para a felicidade, e se esquecem de realmente sentirem-se felizes.

Fotos de sorrisos nas redes sociais não refletem a realidade das pessoas que as postam. Quase que obrigatoriamente, vende-se a imagem de uma vida perfeita, que na verdade nem existe. No fundo, a solidão e a angústia existente no interior de cada um, é sentida a cada instante de vida sem wi-fi. As pessoas estão cada vez mais imersas em seus medos, e tentam camuflar isso com frases e imagens que são oferecidas diariamente, como se fossem pílulas de sobrevivência para o caos em que nos deixamos entrar.

Como Freud nos alertou: "A felicidade é um problema individual. Aqui, nenhum conselho é válido. Cada um deve procurar, por si, tornar-se feliz". Mas será que estamos mesmo enxergando o que pode estar, como disse nosso poeta, na ponta do nosso nariz?

Neste momento olhei ao meu redor e percebi quanta beleza havia naquela simplicidade toda. Como era bom sentir aquela brisa e poder contemplar as maravilhas da natureza, de graça. Como era gratificante poder sentir a vida em pequenos detalhes e notar quantas vezes reclamara de coisas absolutamente inúteis, pela simples insatisfação com o momento atual em que me encontrara.

Aquela felicidade estava dentro de mim. Bastava descobrir uma maneira de resgatá-la, quando a ansiedade ou a frustração batessem à minha porta.

Havia lido recentemente numa revista (Galileu – 10/03/2015), que a "busca da felicidade é uma epidemia mundial — em um estudo com mais de 10 mil participantes de 48 países, os psicólogos Ed Diener, da Universidade de Illinois, e Shigehiro Oishi, da Universidade de Virginia, descobriram que pessoas de todos os cantos do mundo consideram a felicidade mais importante do que outras realizações pessoais altamente desejáveis, tais como ter um objetivo na vida, ser rico ou ir para o céu."

Todos querem a felicidade. Todos querem se sentir bem consigo mesmo. Mas buscamos tanto por isso em "coisas" que muitas vezes não percebemos que ela pode estar ali, na sua frente, e na maioria das vezes, em coisas simples.

A matéria da revista continuava dizendo que "a febre da felicidade é estimulada em parte pelo crescente número de pesquisas que sugerem que, além de ser boa, a felicidade também faz bem — ela está ligada a muitos benefícios, desde maiores salários e um melhor sistema imunológico até estímulo à criatividade."

E aí, em busca de tantos benefícios (inclusive materiais), deixamos a ansiedade tomar conta de nós. Essa mesma ansiedade faz com que o processo todo se torne um ciclo vicioso, e em busca da felicidade, deixamos de apreciar o momento atual, acreditando que a tal da felicidade só será alcançada quando comprarmos algo, adquirirmos um bem ou estivermos em algum lugar ou com alguém, esquecendo-nos de que ela deve, primeiro, encontrar-se dentro de cada um de nós, para que possa se refletir naquilo que buscamos.

Guardei meu livro, levantei-me e continuei minha caminhada, que como na vida, apresentava momentos bons e ruins, dias como aquele, em que tudo estava em paz e dias turbulentos, de chuva e mau tempo, cheio de obstáculos pelo caminho.

Estava feliz. Descobri naquele fim de tarde o que Mahatma Gandhi passou a vida tentando ensinar:

"Não existe um caminho para a felicidade. A felicidade é o caminho. "

Samia

Sobre o editor

Guilherme Mazzeo é coordenador institucional do GvCult, graduando em Administração Pública pela FGV-EAESP. Um paulista criado em Salvador, um ser humano que acredita na cultura e na arte como a direção e o sentido para tudo e para todos. A arte é a mais bela expressão de um ser humano, é a natureza viva das coisas, a melhor tradução de tudo. Só a cultura soluciona de maneira sabia e inteligente tudo, a cultura é a chave para um mundo melhor, mais justo, livre e próspero! Devemos enaltecer e viver nossas culturas de forma que sejamos protagonistas, numa sociedade invasiva e carente de: vida, justiça, alegria e força.

Sobre o Blog

O GV Cult – Núcleo de Criatividade e Cultura da FGV desenvolve atividades de criação, fruição, gerenciamento, produção e execução de projetos culturais e de exercícios em criatividade.