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GV CULT - Criatividade e Cultura

As palavras de Gabriel García Marquez: “Do amor e outros demônios”

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04/05/2021 07h22

O escritor colombiano Gabriel García Márquez, vencedor do Nobel de literatura em 1982. Foto: Reprodução internet.

Por Bernardo Buarque de Hollanda

O jornalista e romancista colombiano Gabriel García Márquez (1927-2014) tornou-se um ícone da literatura latino-americana na segunda metade do século XX. Conhecido entre os amigos como Gabo, o escritor foi associado ao chamado "realismo mágico" praticado na América Latina a partir dos anos 1960, sendo um de seus principais expoentes. Na coluna de hoje, compartilhamos uma antologia de frases de um romance menos conhecido de sua produção ficcional, publicado em meados dos anos 1990:

  • "Havia-os em armários de vidro e em estantes abertas, ou postos no chão muito cuidado, e o médico caminhava pelos desfiladeiros de papel com a ligeireza de um rinoceronte entre rosas" (p. 45)
  • "O coração da menina batia aos saltos enlouquecidos, e a pele soltou um orvalho lívido e glacial, com um recôndito cheiro de cebola" (p. 49)
  • "… e tornou a ver em seus olhos os vaga-lumes de incerteza que nasceram com ele" (p. 109)
  • "Pareciam-lhes dotadas de um uso da razão intransferível para navegar sem tropeços entre os acasos da realidade" (p. 114)
  • "Aquela paisagem de inverno seria a moldura de um sonho recorrente que iria perseguir o jovem teólogo pelo resto da vida". (p. 116)
  • "Os crepúsculos alucinantes, os pássaros de pesadelo, as podridões deliciosas dos manguezais lhe pareciam doces recordações de um passado que não vivera". (p. 118)
  • "Achava todo o cotidiano com algo de sobrenatural." (p. 120)
  • "O bispo estendeu-se na cadeira de balanço e naufragou na nostalgia". (p. 142)
  • "Desde que sentiu as primeiras brisas do Caribe, misturadas com tambores noturnos e cheiros de goiabas noturnas, tirou as vestes primaveris e andava de peito de fora por entre as vestes das senhoras" (p. 144)
  • "Falou de Yucatán, onde tinham construído catedrais suntuosas para esconder as pirâmides pagãs, sem perceber que os aborígenes acudiam à missa porque debaixo dos altares de prata seus santuários continuavam vivos". (p. 153)
  • "Enquanto comiam, ela fez um comentário casual: – conheci a neve. Cayetano não se espantou. Em outra época tinham falado de um vice-rei que quis trazer a neve dos Pireneus para que aborígenes a conhecessem, pois ignorava que a tínhamos quase dentro do mar, na Serra Nevada de Santa Marta". (p. 159-160)
  • "No quarto, Delaura separou com um simples olhar o que era o profuso legado da avó e os objetos novos de Sierra María: as bonecas vivas, as dançarinas de corda, as caixas de música". (p. 165)
  • "Custou a notar que sua voz interior ia repartindo versos soltos da canção tiorba. Começou a contá-la em voz alta, açoitado pela chuva, e a repetiu decorada até o final". (p. 167)
  • "Abrenúncio o fez sentar diante dele, e os dois se entregaram ao vício da conversação, enquanto uma tempestade apocalíptica convulsionava o mar". (p. 172)
  • "Bastou dizê-lo para se libertar do nó de suspiros que o oprimia. Abrenúncio olhou-o nos olhos, até o fundo da alma, e percebeu que estava quase a chorar. – Não se atormente à toa – disse em tom tranquilizador. – Talvez só tenha vindo porque precisava falar nela. Delaura sentiu-se nu." (p. 174)
  • "Ele tornou a mudar a face, embriagado pela onda de prazer proibido que lhe subiu das entranhas". (p. 175)
  • "Ele sentiu que flutuava numa nuvem pessoal, onde nada deste mundo ou do outro tinha importância…" (p. 176)
  • "Os leprosos, em estado de morte legal, dormiam no chão de terra batida em barracas de folhas de palmeira". (p. 181)
  • "O pânico foi substituído pelo naufrágio do coração". (p. 189)
  • "… houve uma chispa de raiva em seus olhos e uma rajada de rubor lhe incendiou o rosto". (p. 190)
  • "O corpo de Sierva María estremeceu com um gemido, e ela soltou uma tênue brisa marinha e se abandonou à própria sorte." (p. 191)
  • "… revolviam-se em pantanais de desejo até o limite de suas forças: exaustos, mas virgens". (p. 192)
  • "Sierva María viu a deflagração dourada, ouviu o crepitar da lenha virgem e sentiu a exalação acre de chifre queimado sem que se movesse um músculo de seu rosto impenetrável". (p. 194)
  • "O bispo aspirou fundo e tornou a abrir a boca para continuar o conjuro, mas o ar lhe morreu dentro do peito sem que o pudesse expulsar". (p. 196)
  • "Diante dela estava um padre velho de estatura imponente, a pele parda curtida pelo salitre, com a testa de crinas em pé, as sobrancelhas hirsutas, as mãos de camponês e uns olhos que convidavam à confiança".
  • "… o vermelho e branco do amor e do sangue de Xangô, o vermelho e o negro da vida e morte de Exu, as sete contas de água e azul pálido Iemanjá". (p. 198)
  • "Entreteve-se uma meia hora conversando com aas matronas negras, sentadas como ídolos monumentais diante das miudezas de artesanatos expostos no chão em cima de esteiras de jutas" (p. 201)
  • "O ar cheirava a rosas de começo de maio e o céu era o mais diáfano do mundo". (p. 201)
  • "… era o bairro mais alegre, de cores intensas e vozes radiantes, ainda mais ao entardecer, quando punham de fora as cadeiras para gozar a fresca no meio da rua. O vigário distribuiu os doces entre os meninos do mangue e levou três para jantarem com ele". (p. 202)
  • "Os cachorros bravos a seguiam ofegantes, se embarafustavam entre suas pernas, e ela os tratava com sussurros de noiva". (p. 206)
  • "Teve que remontar os afluentes da memória" (p. 209)
  • "Na varanda do pórtico, sentada numa cadeira de balanço e comendo cacau com o olhar imóvel no horizonte, lá estava ela" (p. 210)
  • "Escolhia-os nas quadrilhas e os despachava em fila indiana na orla dos bananais até que o mel fermentado e as barras de cacau acabaram com os seus encantos…". (p. 212)
  • "Ouviu-se no horizonte um tropel de animais remotos, e uma voz de mulher inconsolável os chamou pelos nomes, um por um, até que anoiteceu". (p. 213)
  • "Os fios de cabelo brotaram-lhe como borbulhas no crânio raspado, e era possível vê-los crescer". (p. 221)

Edição Final: Guilherme Mazzeo

Sobre o editor

Guilherme Mazzeo é coordenador institucional do GvCult, graduando em Administração Pública pela FGV-EAESP. Um paulista criado em Salvador, um ser humano que acredita na cultura e na arte como a direção e o sentido para tudo e para todos. A arte é a mais bela expressão de um ser humano, é a natureza viva das coisas, a melhor tradução de tudo. Só a cultura soluciona de maneira sabia e inteligente tudo, a cultura é a chave para um mundo melhor, mais justo, livre e próspero! Devemos enaltecer e viver nossas culturas de forma que sejamos protagonistas, numa sociedade invasiva e carente de: vida, justiça, alegria e força.

Sobre o Blog

O GV Cult – Núcleo de Criatividade e Cultura da FGV desenvolve atividades de criação, fruição, gerenciamento, produção e execução de projetos culturais e de exercícios em criatividade.