Topo

GV CULT - Criatividade e Cultura

As palavras de Guimarães Rosa (IV): Sagarana

GvCult - Uol

10/11/2020 07h03

Guimarães Rosa durante a viagem pelo sertão de Minas Gerais, em 1952 – Reprodução

Por Bernardo Buarque de Hollanda

A

– Aboio: melopeia plangente e monótona com que os vaqueiros guiam as boiadas ou chamam os bois dispersos.

– Alicantina: astúcia, manha, treta.

– Aluá: bebida feita no Norte do Brasil com farinha de arroz ou milho torrado fermentada com açúcar em potes de barro e em Minas Gerais com cascas de abacaxi.

– Apólice: documento que formaliza o contrato de seguro.

– Araçá: bovino de pelo amarelo salpicado ou mascarado de preto.

– Ardil: astúcia, artimanha, artifício.

– Arroz-doce: arroz cozido no leite adoçado com açúcar e temperado com casca de limão, canela em pau, ou água de flor de laranja, canela e em geral polvilhado com canela; arroz-de-função, arroz-de-leite (no Norte e Nordeste adiciona-se leite de coco ao leite de vaca).

– Azêmola: besta de carga, velha e cansada.

B

– Bate-paus (Goiás): indivíduo armado.

– Beócio: curto de inteligência, ignorante, boçal.

– Biboca: vale profundo e de acesso difícil.

C

– Caburé: cafuzo, caboclo, caipira.

– Cafua: habitação miserável.

– Cambará: tipo de árvore.

– Canjica: do quimbundo kanjika. Papa de consistência cremosa feita com milho verde ralado, a que se acrescenta açúcar, leite de vaca ou de coco, e polvilha com canela; jimbelê. Em São Paulo, Mato Grosso e Goiás, chama-se curau; em Minas Gerais e no estado do Rio, coral e papa de milho; na cidade do Rio, canjiquinha. Munguzá.

– Capadócio: impostor, trapaceiro, canalha.

– Capiau: caipira.

– Catre: leito tosco e pobre, grabato.

– Covanca: terreno pouco extenso, cercado de morros, com entrada natural apenas de um lado, formando uma bacia e que é o extremo de um vale.

– Cumari: espique grande, da família das palmáceas, cujo fruto, drupáceo, com polpa amarelo-avermelhada e aromática, tem semente com uma amêndoa comestível, e que apresenta inflorescência em espádice, emergindo do centro de duas brácteas; aiará, cumbari, cumbarim, curuá, coqueiro-tucum, tucum-do-amazonas, tucumã-piranga.

D

– Dédalo: cruzamento confuso de caminhos, encruzilhada, labirinto.

– Derrear: curvar-se, vergar-se, inclinar-se.

E

– Escárnio: menosprezo, desdém.

– Escarpa: ladeira íngreme, alcantilada.

– Esfalfado: cansado, extenuado.

– Estuário: tipo de foz em que o curso de água se abre mais ou menos largamente.

– Estugar: apressar, aligeirar.

– Exumado: tirado da sepultura e do esquecimento, desenterrado.

F

– Fel: mal humor, amargor, ódio.

– Frincha: fenda.

– Fubá: farinha de milho ou de arroz. Há o grosso e o fino, a que chamam mimoso.

I

– Impar: do espanhol, hipar; mostrar-se soberbo.

– Insalubre: doentio.

J

– Jacuba: refresco ou pirão feito com água, farinha de mandioca, e açúcar ou mel, e por vezes temperado com cachaça. Na Amazônia, chibé; no Pará e no Maranhã, tiquara e chibé; em Pernambuco, gonguinha; no Nordeste, sebereba. Garapa.

– Jaculatória: oração curta e fervorosa.

– Jalde: jalne, amarelo vivo, cor de ouro.

– Jirau: qualquer armação de madeira em forma de estrado ou palanque.

L

– Lacônico: conciso, breve, resumido.

– Latejar: pulsar, palpitar, arfar, arquejar.

M

– Malabar: variedade de gado bovino originária do cruzamento do touro zebu com vaca da terra.

– Mamparras: evasivas, escapatórias, subterfúgios.

– Mangabeiro: aquele que se dedica à extração do látex da mangabeira.

– Maranhão: flamingo (ave ciconiforme) – coloração rosadas, rêmiges pretas e penas dos ombros de um encarnado vivo.

– Marombando: vadiar no trabalho, fugir ao compromisso, usar de dissimulação, enganar.

– Matrinxã: peixe da Amazônia, coloração geral oliváceo-dourada, com nadadeiras caudal e anal lavadas de vermelho. Algumas espécies são prateadas.

– Mocotó: pata dos animais bovinos, destituída de casco, e que se usa como alimento.

– Moliana, ou colher-de-vaqueiro: árvore da família das voquisiáceas, típica do cerrado, de folhas enormes e rígidas, flores amareladas e vistosas, e cujos frutos são cápsulas que contêm sementes aladas; bananeira-do-campo.

– Mourejar: trabalhar muito, sem descanso (como um mouro).

O

– Ocre: argila colorida por óxido de várias tonalidades pardacentas (vermelhas, amarelas, castanhas), usada em pintura.

– Orilha: borda, orla, margem, beira.

P

– Paiol: armazém para depósito de gêneros da lavoura.

– Palude: pântano.

– Pedrês.

– Pintassilgo: pequena ave fringilídea.

– Pirambeira: precipício, abismo.

– Piroga: antiga embarcação indígena, esguia e aberta, feita de um tronco de árvore escavado a fogo.

R

– Ripuário: indivíduo pertencente às antigas tribos germânicas que habitavam as margens do Reno.

S

– Saracura: designação comum às aves gruiformes, da família dos ralídeos, representada no Brasil por 13 gêneros e várias espécies. São aves desconfiadas, que passam o dia escondidas na vegetação, saindo, em geral, a tarde, para se alimentarem de insetos, crustáceos e peixes de pequeno porte.

– Sinagoga: reunião tumultuosa, pândega, desordem, barulho.

– Sojigar: dominar, conter, aguentar, subjugar.

– Sungar: puxar para cima, erguer, levantar.

T

– Tabatinga: argila sedimentar, mole e untuosa.

– Tafiá (do crioulo antilhano e do francês): cachaça.

– Tordilho: que tem colorido semelhante ao do tordo. Cavalo de pelo negro com manchas brancas que lembram a plumagem do tordo.

– Tosar: aparar a felpa de; tosquiar; cortar rente.

– Tropeiro: indivíduo que compra e vende tropas de gado, de mulas ou de éguas.

– Tugir: falar baixinho, dar sinal de si, murmurar.

– Turba: multidão em desordem.

– Turina: diz-se de espécie de gado bovino de uma variedade portuguesa de uma raça holandesa.

U

– Ulano: lanceiro de alguns antigos exércitos europeus.

– Urupê: espécie de fungo da família das poliporáceas; orelha-de-pau, pironga.

 

Junto ao glossário, compartilhamos algumas frases do livro:

"Magina só: eu agora estava com vontade de cigarrar…Sem aluir daqui, sem nem abrir os olhos direito, eu esticava o braço, acendia o meu cigarrinho lá no sol… e depois ainda virava o sol de trás p'ra diante, p'ra diante, p'ra fazer de-noite e a gente pode dormir…Só assim é que vale a pena!…" (p. 108)

"…alargadas barbas, entremeadas de fios de ouro". (p. 253)

"E o mulungu rei derribava flores suas na relva, como se atiram fichas ao feltro numa mesa de jogo". (p. 261).

"O odor maciço, doce-ardido, do pau-d'alho!" (p. 266)

"Na baixada, mato e campo eram concolores. No alto da colina, onde a luz andava à roda, debaixo do angelim verde, de vagens verdes, um boi branco, de cauda branca. E, ao longe, nas prateleiras dos morros cavalgavam-se três qualidades de azul". (p. 268)

"Aquilo é cobra que pisca olho…". (p. 274)

"Havia, sim, os subvalentões, sedentários de mão pronta e mau gênio, a quem, por garantia, todos gostavam de dar os filhos para batizar." (p. 275)

"Raro, o pataleio de um cavalo no cascalho". (p. 276)

"A bem dizer, eram cor de abóbora d'água os seus olhos. Tinha até um respingo de sardas, eu vi". (p. 281)

"Um coice mal dado chega p'ra desmanchar a igrejinha da gente". (p. 290)

"E, aí, quando tudo esteve a ponto, abrasaram o ferro com a marca do gado do Major – que soia ser um triângulo inscrito numa circunferência". (p. 352)

"…um sol, talqualzinho a bola de enxofre do fundo do pote, marinhava céu acima". (p. 373)

"E bebia, aparada nas mãos, a água das frias cascatas véus-de-noivas dos morros, que caem com tom de abundância e abandono". (p. 376)

Edição Final: Guilherme Mazzeo

Sobre o editor

Guilherme Mazzeo é coordenador institucional do GvCult, graduando em Administração Pública pela FGV-EAESP. Um paulista criado em Salvador, um ser humano que acredita na cultura e na arte como a direção e o sentido para tudo e para todos. A arte é a mais bela expressão de um ser humano, é a natureza viva das coisas, a melhor tradução de tudo. Só a cultura soluciona de maneira sabia e inteligente tudo, a cultura é a chave para um mundo melhor, mais justo, livre e próspero! Devemos enaltecer e viver nossas culturas de forma que sejamos protagonistas, numa sociedade invasiva e carente de: vida, justiça, alegria e força.

Sobre o Blog

O GV Cult – Núcleo de Criatividade e Cultura da FGV desenvolve atividades de criação, fruição, gerenciamento, produção e execução de projetos culturais e de exercícios em criatividade.