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GV CULT - Criatividade e Cultura

O primeiro passo para uma vida mais criativa

GVcult

18/11/2016 22h41

Por Marcio Samia

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Nos últimos tempos, muito se fala em criatividade e inovação. Na realidade, porém, pouco se cria de fato.

Essa incoerência entre o discurso e ação é facilmente percebida, por exemplo, no líder que está sempre tão ocupado que não pode ouvir uma nova ideia do esforçado colaborador, e quando ouve, parece estar prestando um grande favor, deixando de realizar outras atividades para estar ali, com a atenção dividida entre o que o colaborador fala e os e-mails que chegam incessantemente no seu celular.

A falta de reconhecimento a um trabalho bem desenvolvido, um clima tenso na organização, a pressão por resultados a qualquer custo e em prazos cada vez mais curtos, a falta de flexibilidade dos líderes e até os conflitos entre as próprias equipes são outros exemplos de casos onde o desenvolvimento da criatividade facilmente se esvai.

As empresas sabem cada vez mais da importância desses conceitos em suas ações, mas não oferecem o mínimo necessário para que algo de novo se desenvolva.

No fundo, a frustração acaba rompendo as barreiras organizacionais e as pessoas, cansadas, acabam fazendo as mesmas coisas todos os dias também em suas vidas cotidianas.

O tempo vai passando. Do mesmo modo passam-se os dias, as semanas, os meses, os anos… e a vida, quando se vê, acaba também passando com diferenças mínimas nos lugares, nos caminhos que levam a esses lugares, nos relacionamentos, nos programas, nos hábitos, enfim, a jornada que se decide trilhar dia após dia acaba tomando um rumo sempre parecido demais.

Segundo o dicionário da língua portuguesa, uma das definições para o termo Criatividade é a "capacidade de criar, de inventar. Qualidade de quem tem ideias originais (dicionário Aurélio da Língua Portuguesa).

Mas como inventar algo novo se estamos enterrados em conceitos e hábitos antigos?

É justamente aí que devemos nos questionar e refletir. Queremos ser criativos? Como devemos proceder para que possamos ser inovadores não só no nosso ambiente de trabalho, mas também em nossa vida diária? Como dar aquela "apimentada" no nosso dia a dia para fazer as coisas terem mais graça e mais "sabor"?

Bom, a primeira coisa para se levar uma vida com um pouco mais de criatividade é dar o primeiro passo em busca disso, e esse primeiro passo pode ser simplesmente mudar um pouquinho do que acontece repetidamente em sua rotina.

Iniciar um novo esporte, planejar uma nova viagem, traçar um novo caminho, ver um novo filme, ir a novos lugares, falar com novas pessoas… enfim estar disposto a encontrar o novo. Assim o novo também travará um encontro com você e pasmem: essa troca será rica para ambos!

Novos ambientes e conexões estimularão novas ideias e dessas novas ideias surgirão novas ações, diferentes das que existiam até pouco tempo atrás. E é aí que a criatividade mora.

Vamos chamar esse primeiro passo de "descoberta de um ambiente produtivo", já que ele pede que iniciemos uma nova caminhada num ambiente diferente do que estamos acostumados, a fim de conhecermos novos conceitos e, assim, produzamos de maneira diferente.

Pelo receio de se expor, talvez reforçado nos anos de não incentivo à criatividade, cria-se um "medo do grupo social". Já deixou de levantar a mão alguma vez com medo de acharem sua pergunta ridícula? Aí preferimos ficar com dúvidas ao invés de saná-las e vamos nos acomodando na nossa – nem sempre – aconchegante zona de conforto.

Para implantar uma nova ideia, seja no trabalho ou na sua vida será preciso muita determinação. Apenas imaginar coisas novas não vai te levar a lugar nenhum, pois só se faz o caminho caminhando. Haverá tropeços, mas as chances de se chegar a algum lugar é imensamente maior do que quando ficamos esperando que algo diferente aconteça.

Como sei disso?

Em 2013 eu precisei sair da minha zona de conforto.

Depois de ter trabalhado por 12 anos com planejamento estratégico, onde tinha tudo (tudo mesmo) planilhado nas células do Excel, enfrentei um problema em minha vida. Após extrair toda a ajuda possível dos meus amigos e familiares, decidi que talvez fosse o momento de me retirar. Em menos de duas semanas me organizei para fazer uma viagem que deveria ter sido mágica. Fui caminhar por 800 quilômetros no incrível Caminho de Santiago de Compostela, na Espanha.

Sem o devido planejamento cheguei lá e após 26 dias de muitos tropeços cheguei na cidade de Santiago tendo caminhado menos de um quarto do que havia me programado, sem contar a dor insuportável de uma tendinite que havia se desenvolvido e estava evoluindo para um princípio de trombose.

Apesar de frustrado e machucado, consegui perceber mudanças em mim. Eu havia me predisposto a encontrar novos ares e, fora minha condição física, os lugares por onde passei e as pessoas que conheci haviam feito verdadeiras transformações internas.

Voltei para o Brasil, me preparei e em 2015 retornei à Espanha. Estava disposto a percorrer todo o Caminho.

Com o objetivo concluído, comecei a olhar para minha vida. Não queria mais aquele "mais do mesmo".

Tirei um pequeno período para digerir todo aquele aprendizado e pude perceber em inúmeras histórias de gente comum, algumas atitudes semelhantes que as faziam levar uma vida mais leve, mais criativa.

Por estar num ambiente completamente diferente do meu ambiente comum, seria impossível não citar esse como o primeiro dos "passos" que descobri em outras pessoas como eu, que apesar de terem suas rotinas diárias traçadas, não se impedem de fazer coisas diferentes em seus dias, encontrando diferentes ambientes e conexões produtivas a fim de se desenvolverem um pouco mais do que no dia anterior.

Essa foto no início do artigo, por exemplo, foi tirada no Salar do Uyuni, na Bolívia. Um imenso deserto branco de sal onde o horizonte desaparece, permitindo explorar diversos ângulos e olhares. Um lugar fantástico para explorar o que propomos a partir de agora. Nesta nova fase vamos falar sobre criatividade, e como isso tem a ver diretamente com tudo o que você faz na sua vida, e convido a você, leitor, para que acompanhe nos próximos artigos, algumas dessas histórias e reflexões vivenciadas por mim, conhecendo gente que resolveu enfrentar uma situação desconfortável em que viviam (e a qual muitos insistem em chamar de zona de conforto), e hoje vive uma vida mais criativa, com a mesma responsabilidade, ou até maior, por entender que o que acontece em suas vidas é consequência de seus próprios atos.

Nós continuamos assim, Evoluindo Por Aí… um forte abraço!

Edição Enrique Shiguematu

Sobre o editor

Guilherme Mazzeo é coordenador institucional do GvCult, graduando em Administração Pública pela FGV-EAESP. Um paulista criado em Salvador, um ser humano que acredita na cultura e na arte como a direção e o sentido para tudo e para todos. A arte é a mais bela expressão de um ser humano, é a natureza viva das coisas, a melhor tradução de tudo. Só a cultura soluciona de maneira sabia e inteligente tudo, a cultura é a chave para um mundo melhor, mais justo, livre e próspero! Devemos enaltecer e viver nossas culturas de forma que sejamos protagonistas, numa sociedade invasiva e carente de: vida, justiça, alegria e força.

Sobre o Blog

O GV Cult – Núcleo de Criatividade e Cultura da FGV desenvolve atividades de criação, fruição, gerenciamento, produção e execução de projetos culturais e de exercícios em criatividade.