Diderot e a pintura
Por Bernardo Buarque de Hollanda
"… sede discípulos do arco-íris,
mas não sejais seu escravo."
Diderot
Do escritor francês Denis Diderot (1713-1784), ouve-se falar desde os bancos escolares. Durante a graduação, lembro de ter lido Iluminismo, de Francisco Falcon, pequeno, porém elucidativo livro sobre os filósofos iluministas do século XVIII. Mas foi na pós-graduação, em uma das aulas do professor Luiz Costa Lima, que surgiu o interesse pela obra estética de Diderot. Nela, o escritor desenvolve teorias sobre a subordinação da arte à natureza.
A vasta produção intelectual do autor setecentista, caraterizada por um pensamento não só heterogêneo como heteróclito, levou à necessidade de circunscrever a leitura ao livro Ensaios sobre a pintura (1766). Este veio a lume quinze anos após a redação do verbete sobre o belo, em um dos famosos 35 volumes da Enciclopédia, projeto monumental dos editores-chefes Diderot e D'Alembert (1717-1783).
No mesmo ano em que conceituou a beleza artística, Diderot publicou a intrigante Carta sobre surdos e mudos (1751). Nesta, sustenta a ideia de que o hieróglifo é a linguagem condensadora por excelência do discurso pictórico-poético. Ademais, os textos de então já tinham um acúmulo de sete anos de crítica de arte, produzida para a Correspondance littéraire, em que comentava os quadros em exposição nos Salões Parisienses. É nesse nobre espaço que o philosophe entra em contato com as telas de Fragonard, Van Loo, Vernet, Watelet, entre outros pintores contemporâneos.
O interesse pelos ensaios sobre a representação pictórica do autor levou a um levantamento prévio, com a apreciação de quatro intérpretes dedicados à exegese das ideias diderotianas: Jacó Ginzburg (1966), Costa Lima (1988), Enid Abreu Dobránszky (1993) e Claude Lévi-Strauss (1997). Os três primeiros empreendem uma pesquisa mais sistemática, enquanto o último, no livro Olhar escutar ler, focaliza pontos mais específicos.
J. Ginzburg, em sua introdução ao livro A filosofia de Diderot, descreve a vida, a obra e as etapas de pensamento do autor. Já Costa Lima avança no tema e estabelece os fundamentos estéticos de Diderot. Para tanto, acompanha as oscilações de seu complexo percurso teórico e alinhava a teoria da imitação, tal como ela se apresenta ao autor, mediante um quadro histórico em que se inscreve o conceito de imitatio desde o Renascimento.
Dobránsky, por seu turno, situa o crítico francês na encruzilhada entre o Classicismo e o Romantismo, ao passo que Lévi-Strauss faz ressalvas às concepções artísticas do autor de Jacques, o fatalista, evidenciando de que maneira Diderot amealhou ideias de outros escritores, como o abade Batteux (1713-1780).
Feito esse breve introito, à guisa de contextualização, o texto da próxima quinzena entrará mais diretamente nas reflexões pictóricas de Diderot, tal como expostas no livro Ensaios sobre a pintura.
Edição Enrique Shiguematu
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