Por   Karina Cassiano

Nestas últimas semanas me deparei com algumas pesquisas que chamam e merecem atenção de todos nós… bem, pelo menos pulou aos meus sentidos. Sei que devo admitir: sou uma admiradora e incessante consumidora destes números que, por vezes, nos levam a refletir sobre a realidade que, vez ou outra, está muito próxima ou muito distante de nossas realidades de megalópole!

Duas em particular gostaria de compartilhar e dar um minuto de atenção aos chocantes dados apurados.

O Fecomercio do RJ no início de abril deste ano apurou que em 2014 sete entre dez brasileiros nunca leram livros. Sim, nenhum livro! Se você leu algum livro está entre os 3 que viveram esta aventura e salvaram o conhecimento! A pesquisa teve a abrangência de 70 cidades em nove regiões metropolitanas. Outro dado assustador da pesquisa são as regiões, já que acreditamos que os entrevistados têm mais acesso e incentivo para a leitura pela localização onde residem. Destes mesmos entrevistados, 89% não estiveram em um teatro entre 2013 e 2014. Infelizmente não consegui a informação completa com o número de participantes da pesquisa ou em quais cidades. Mesmo assim o número é alarmante.

Ao questionarem estes brasileiros com o intuito de descobrirem o motivo para a não leitura ou participação em ações culturais, dois principais motivos vieram à tona:

• Falta de hábito
• Situação econômica do país

Me questiono … podemos criticar quando um brasileiro diz não ter o hábito de consumir cultura, seja através dos livros, teatros ou exposições?

Antes de deixa-lo responder, vamos para a segunda pesquisa… que vem do Mapa da Desigualdade em São Paulo. Este mapa é realizado desde 2009 pela ONG Nossa São Paulo e teve sua atualização divulgada dia 19 deste mês. Nele podemos ter acesso a dados como:

• Dos 96 distritos que a capital possui (12 milhões de habitantes), 2/3 não se encontra nenhum centro ou casa cultural, teatro ou cinema.
• Dos 96 distritos que a capital possui (12 milhões de habitantes) apenas 36 distritos possuem um acervo de livros para adultos.
• Dos 96 distritos que a capital possui (12 milhões de habitantes) apenas 37 distritos tem estrutura e acervo de livros infanto-juvenis em bibliotecas municipais.

A informação da Ong Nossa São Paulo conta apenas a realidade de uma metrópole. O que acontece quando nos afastamos 80km ou 100km das metrópoles? Como está o acesso à cultura pelos quilômetros desde enorme país?

Um exemplo prático: se eu trabalhasse como auxiliar de limpeza em uma empresa privada, seria remunerada com o salário (convenção coletiva) de R$ 916,02 (bruto) e desejasse assistir um musical como A Mudança de Hábito às 21h no final de semana, encontraria o seguinte desafio:

> Saída do Bairro de Ermelino Matarazzo às 19h

> Deslocamento de 28 km, ou 1h30 para ida, equivalente a 1 ônibus + 1 trem

> Entrada Inteira Balcão B R$50

> Comidinhas R$ 25,00

> Saída do Teatro às 23h

> Mais um deslocamento de 28 km, ou 1h30 para volta, equivalente a 1 ônibus + 1 trem

> A estação fecha as 00h!!  Corra, pois são 28km.

Para este passeio cultural, sozinha eu teria gasto 10% do meu rendimento bruto. Se com o mesmo salário eu desejasse presentear um filho com o Livro Mundo de Sofia, iria pagar na promoção R$37,90. Gastando 4,15% dos meus rendimentos brutos.

Vamos comparar o Brasil com o Mundo… lamento não ter encontrado dados recentes, mas o tema e alerta são antigos. Desde 2007 na pesquisa "Retratos da leitura no Brasil", realizada pelo Instituto Pró-Livro, a média anual de leitura da população brasileira, fora do que é solicitado pela escola, é de 1,3 livros. Nos Estados Unidos, em 2006, a média de leitura fora da escola era de 5,1 livros por ano. Na França, a média foi de 7 livros lidos, na Inglaterra 4,9 e na Colômbia 2,4.

Se não houver conhecimento de fácil acesso para todos o que será de nosso Brasil?

Edição    Filipe Dal'Bó e Samy Dana