O Sal da Terra
Por Vítor Steinberg
No evidentemente extinto programa "Provocações" da TV CULTURA, o bruxo Antônio Abujamra fez a seguinte pergunta a Sebastião Salgado: "Você por acaso é um amante da estética da miséria?" Não lembro o que o fotógrafo respondeu, mas fiquei com uma curiosidade pinicante para descobrir a origem desta pergunta, onde ela apareceu na alma de Abujamra? Não é tarefa para um cientista qualquer. Os bruxos são esquivos e difíceis, podem desaparecer no deserto ou misturar tudo num tufão de dúvidas e loucura.
Aí chega aos cinemas o filme do bruxo Wim Wenders. Outro tipo de magia, outro estilo de mágica. "O Sal da Terra" (2015), uma intensa e arrebatadora escavação pela alma de Sebastião Salgado. A macumba do Abu voltou com tudo… será que naquele homem tudo está escondido? O que de fato ele põe na luz? Ele não é um pintor realista, ele não é um cineasta do Neorrealismo italiano. Ele não precisa ser catalogado como um Greuze ou mesmo um Rembrandt naturalista. Por que, de fato, ele me parece não se preocupar com nada mais a não ser o real.
Podia ser mais elegante, será que ele mostra demais? Puxa a todo custo uma certa saturação oculta no seu preto e branco? Saturação de dor, desespero. Por que o artista precisa mostrar aquilo?
O que fica impressionante é como Wim Wenders mostra o Sebastião calmo e sereno, me parece que a calma dele é o que o levou ao sucesso, mesmo depois de começar velho e ter sido economista. Aquele homem é muito calmo, aquele homem é piedoso demais. Ele é um anti-mártire, ele é um herói.
A fotografia dele salva o mundo? Como ele teve acesso ao impossível? Com aquela calma… Como é que não houve alguém que o protegesse? Um tecnologia cara que o agasalhasse? Esse herói deve custar muito caro. Talvez a ONU e a UNESCO deram um espécie de Green Card interplanetário para Sebastião. Ninguém disse "não" para ele. Ele entrou onde quis. Ele esperou onde quis.
Fiquei me perguntando também se o Sebastião teria virado Sebastião se tivesse instagram em sua época. Sal salgado, Sebastião. Preço salgado paga o verdadeiro herói.
Enfim, chega de delírios. Precisamos aprender urgente como faz um Instituto Terra.
Edição Filipe Dal'Bó e Samy Dana
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