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GV CULT - Criatividade e Cultura

Jardim Jaqueline

GVcult

03/03/2015 15h28

Por    Joana Cantanhede

Butantã

 

Era cedo e ela ia sentido Nove de Julho. 6h40 da manhã, a moça sobe logo no primeiro ônibus que vê e por sorte encontra um lugar para se sentar. Há horas em que sentar-se no ônibus é bom sinal de sorte, e curiosamente, foi isso que passou por sua cabeça.

Sentada razoavelmente confortável em seu banco, observa o cobrador que dorme profundamente sem exercer sua função devidamente. Mas são 6h40 e os próprios passageiros entendem a situação com compaixão.

E é divagando que a moça percebe estar indo por um caminho nada conveniente, adentrando o Butantã. Assusta-se mas logo acalma-se. Ela não precisa chegar tão cedo em seu compromisso. Se deixa ir, pensando nos poucos créditos que lhe restavam no Bilhete Único.

E, novamente, aprofunda-se em seus pensamentos e sono, olhando sem ver o caminho lá fora.

Até que para e nota que já não conhece mais o lugar que está. Antes fosse essa uma trapaça de seus pensamentos. Ela estava, de fato, afastando-se constantemente de seu destino. Assustada, decide olhar no celular onde está exatamente, e poucos segundos depois descobre que encontrava-se no Taboão da Serra. Seria essa obra do destino? Pensou no que um professor um dia lhe dissera: "se quer ter tema pra escrever, vá andar de transporte público". Era algo um tanto estranho e deveras extremo.

Mas o que podia fazer ela, em um lugar que mal conhecia? O melhor seria mesmo permanecer naquele ônibus, até que ele voltasse para a Faria Lima, de onde partiu. E foi assim, que ela lá ficou.

Seu ônibus, então, chegara a seu último ponto, e era necessário que ela descesse. Em uma rápida conversa com o cobrador, que agora estava acordado, conseguiu permanecer em seu lugar e evitar pagar uma nova passagem.

E assim, seu ônibus partiu novamente, percorrendo o caminho já conhecido por seus olhos assustados, passando pelos pontos uma vez vistos.

E quando seu coração começa a reconquistar a confiança e os lugares já voltam a ser conhecidos, o inesperado surge para desviá-la dos caminhos que pareciam claramente traçados.

O ônibus quebrara.

A moça já não mantinha mais a calma. Não se importava com o ônibus, mas não lhe agradava o tempo que perdia. Mal conseguia ler e tinha sono.

Mas não podia esperar pelo próximo. Prontamente atravessou a rua e chamou o primeiro ônibus que passou. Este ia sentido metrô Butantã e lhe animou conhecer o destino. O ônibus – que era micro – estava um tanto cheio, mas essa situação piorou quando todos os passageiros do ônibus que quebrara entraram juntos naquele pequeno veículo.

Nesta hora, a moça, antes serena, tinha mudado sua fisionomia. O calor lhe incomodava, assim como a senhorita volumosa que falava no celular há tempos, em sua orelha.

Mas, assim, seu ônibus seguiu pela Raposo Tavares, rumo ao centro da cidade, onde finalmente poderia subir no metrô que a levaria a seu destino original.

Já eram 9h10 quando chegou à Nove de Julho.

Edição    Filipe Dal'Bó e Samy Dana

Joana

Sobre o editor

Guilherme Mazzeo é coordenador institucional do GvCult, graduando em Administração Pública pela FGV-EAESP. Um paulista criado em Salvador, um ser humano que acredita na cultura e na arte como a direção e o sentido para tudo e para todos. A arte é a mais bela expressão de um ser humano, é a natureza viva das coisas, a melhor tradução de tudo. Só a cultura soluciona de maneira sabia e inteligente tudo, a cultura é a chave para um mundo melhor, mais justo, livre e próspero! Devemos enaltecer e viver nossas culturas de forma que sejamos protagonistas, numa sociedade invasiva e carente de: vida, justiça, alegria e força.

Sobre o Blog

O GV Cult – Núcleo de Criatividade e Cultura da FGV desenvolve atividades de criação, fruição, gerenciamento, produção e execução de projetos culturais e de exercícios em criatividade.