A escola e o lar: como professores e pais estão formando nossas crianças
Por Luciana Garcia.
Não há maneira melhor de avaliar a situação do país do que visitando escolas. E eu tenho o privilégio de, de vez em quando, transitar por várias delas: públicas, privadas, modestas, luxuosas… Na essência, o que muda de verdade é a relação das crianças com os professores e os pais.
Já estive em escola pública em que as crianças imediatamente me cercaram e me abraçaram, carentes de atenção e carinho, e também em escola de elite na qual os alunos da quarta série tratavam as professoras com o típico desprezo de "estou pagando o seu salário". Também já vi meninas maquiadas no primeiro ano escolar e crianças no prezinho de celular na mão durante a fila, assim como trabalhos escolares com nível conceitual de graduação e jovens completamente envolvidos na elaboração e no cuidado de atividades culturais escolares.
No fundo, o comportamento das crianças revela um mundo imenso, no qual podemos identificar questões importantes como presença ou não da família, valores ensinados e partilhados – incluindo a relação entre o sensível e o material –, desenvolvimento ou não de empatia em sua criação e até mesmo o atendimento ou não a suas necessidades básicas: tudo está ali evidente, pronto para ser "lido". É o pai ausente que mima o filho com presentes e não impõe limites, a mãe lutadora que trabalha o dia todo e é obrigada a deixar a filha sozinha, a avó carinhosa que se esforça para executar bem o papel somado de mãe e pai, etc.
A educação não é feita nem somente na escola nem apenas em casa: é da interação entre as vertentes familiar e social que a formação do cidadão se dá, e a responsabilidade dos pais é tão grande quanto a dos professores. Porém, dificilmente um professor poderá fazer um trabalho de excelência se os pais não proporcionarem a base crítica e afetiva a que todo filho deve ter acesso, com noções de solidariedade (pensar no outro), segurança interna (reforço positivo), limites (o simples saber que nem tudo é como a gente quer e lidar com isso) e, acima de tudo, algo que tem sido muito pouco visto em nossa sociedade de modo geral: respeito.
Mesmo com um professor ruim, um aluno com base sólida em casa é capaz de trilhar um caminho de responsabilidade e plenitude, pois, com acompanhamento familiar, possíveis falhas no ensino são rapidamente identificadas, a ponto de providências serem tomadas a tempo, além do fato de dificilmente um único professor ser determinante na vida escolar do aluno. Mas a interação entre casa e escola é, sim, importantíssima: exemplo óbvio disso são os casos de bullying hoje identificados e analisados com mais seriedade, no qual muitas vezes a agressividade de casa é levada para a escola pela criança como forma de passar adiante seu próprio sofrimento, como se com isso pudesse se livrar dele.
Há, portanto, uma ressalva: uma criança sem nenhuma estrutura familiar pode eventualmente ter a chance, ainda que modesta de, na escola, descobrir um novo universo, no qual se sinta apta a lutar por uma vida diferente daquela que conheceu, e isso sem dúvida se dará não apenas pela sala de aula, mas também, e principalmente, pela hora do recreio, pela interação com outros profissionais da escola, pela experiência com os pais de outros alunos e pela inserção da coordenadora pedagógica ou da diretora na intimidade da família quando há oportunidade.
Por tudo isso, em ano de eleição, o importante não é saber quantos novos prédios escolares serão construídos, mas sim que recursos e estrutura os professores (especialmente os que já estão trabalhando) terão para desenvolver plenamente seu trabalho. Eles é que de fato são os tijolos dessas paredes e os grandes governantes do nosso país, porque ajudarão a moldar os futuros profissionais – especialmente seu caráter.
Edição: Samy Dana e Octavio Augusto de Barros.
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